Para o livro das multas
Município disse não ter sido comunicado pela empresa, que afirma seguir diretrizes; moradores criaram movimento contra ‘extermínio’
A Prefeitura de São Paulo vai autuar a Enel, concessionária de energia, por podas drásticas de árvores na região da Lapa, zona oeste paulistana.
A Prefeitura de São Paulo vai multar a Enel, concessionária de fornecimento de energia elétrica, pela poda irregular de árvores na região da Lapa, zona oeste paulistana. O Município disse não ter sido comunicado em tempo hábil pela empresa sobre a remoção e acrescentou que puniria a Enel por ter realizado “poda drástica”. Moradores da região e de outros bairros, como o Butantã, têm denunciado cortes irregulares.
“Não sou especialista, mas convivemos com podas. Agora está muito radical. Não estão cortando somente galhos”, reclama a designer Deborah Marson, de 46 anos, sobre cortes feitos na Rua Coriolano, na Vila Romana. Segundo ela, a empresa contratada pela Enel para fazer a poda apresentou laudo, alegando a necessidade de corte por presença de cupim e risco de queda. “Vimos os galhos caídos e não tinham cupins”, afirmou a moradora. O técnico ainda disse, segundo Deborah, que tem uma lista com 3 mil podas a serem feitas na Lapa.
“Todos notaram. Só deixam o tronco pela metade”, diz a vendedora Gisbele Franco, de 50 anos, que cresceu na Vila Romana. Moradores criaram há três semanas o grupo Luta pela Preservação das Árvores – Vila Romana, no Facebook, para denunciar o “extermínio das árvores”. Há registros ainda na Vila Ipojuca, Lapa de Baixo, Pompeia, Perdizes e Butantã. Outra queixa de moradores é de demora para retirar galhos. No Butantã, por exemplo, há galhos empilhados há dias em volta de troncos que foram cortados. Legislação. A Secretaria Municipal das Subprefeituras disse, em nota, que um decreto de 1.º de março estabelece que a distribuidora de energia é obrigada a ter “as melhores práticas de poda com o objetivo de preservar a saúde, o equilíbrio e a estabilidade das árvores”. A “poda drástica”, segundo a pasta, é aquela que prejudica o desenvolvimento da árvore. A empresa também deve remover resíduos gerados pelas podas.
Em casos de necessidade da poda ou da remoção de árvores
com galhos encostados em cabos de energia, caberá à Enel desligar a rede, realizar o serviço e remover imediatamente os resíduos gerados. Sobre as denúncias na região do Butantã, a Prefeitura disse que precisaria de mais tempo para averiguar.
Já a Enel informou, por meio de nota, seguir as “diretrizes de manuais de podas, elaborados por engenheiros florestais e agrônomos, com procedimentos que respeitam as características das árvores e as técnicas de poda”. Ainda segundo a concessionária de energia, uma força-tarefa foi montada para atender a demandas da Prefeitura para remover árvores perto de fiação elétrica.
A empresa diz ter feito 9,8 mil podas pedidas pela Prefeitura e
Em São Paulo 73 mil É o total aproximado de árvores podadas de janeiro a agosto, além de 10,9 mil removidas.
cerca de 72 mil podas preventivas em árvores da cidade. Até o fim de novembro, mais 2 mil podas serão feitas, atendendo a ofício. A Enel ainda disse só fazer podas com aval do Município.
As multas a Enel poderão variar de R$ 488,49 a R$ 1.953,96. De janeiro a agosto, foram emitidas 61 multas para munícipes, concessionárias e terceirizadas. O valor aplicado foi de cerca de R$ 157,2 mil. Quando a responsabilidade é da Prefeitura, o tempo médio de remoção da árvore após o pedido é de 120 dias. Crítica. Para o botânico Ricardo Cardim, podas malfeitas podem causar problemas. Os galhos grandes cortados, segundo ele, “dificilmente vão cicatrizar, antes de serem contaminados por cupins, fungos”.
Outros problemas do corte indiscriminado de árvores, alerta, são os riscos de acidentes nas ruas, mais calor, redução de chuvas, piora do ar e até queda na quantidade de pássaros, que ajudam a conter a proliferação de cupins, pernilongos e baratas.