O Estado de S. Paulo

Investimen­to verde

- PAULO HARTUNG ECONOMISTA, PRESIDENTE DA IBÁ, FOI GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (2003-2010 E 2015-2018)

Os recorrente­s abalos ético-políticos no âmbito das institucio­nalidades, somados à instabilid­ade econômica que assola o Brasil a olongo de tantos anos, vêm incrementa­ndo dia adia as dificuldad­es para a retoma dado desenvolvi­mento no País. Um acrise fiscal profunda cer cade 12,6 milhões de desemprega­dos.

Queda de renda e muita desconfian­ça com relação ao nosso futuro mantêm um horizonte de prosperida­de vicejante como pura miragem. A perspectiv­a é de cresciment­o tímido, mesmo quando concluída a reforma da Previdênci­a.

O governo adotou medidas par atentar acelerara retomada, como a liberação de saques do FGTS e o incentivo àS emanado Brasil. Mas o caminho seguro par acresce ré o investimen­to. E nessa rotado desenvolvi­mento há uma estação de parada obrigatóri­a: a efetivação das reformas estruturan­tes, como a tributária, reforma de RH dos governos e privatizaç­ões, entre outros.

Somente pela refundação de leis e marcos regulatóri­os nacionais nos tornaremos um país viável a investimen­tos de relevância ena medida de nossas necessidad­es e oportunida­des. Esseéo meio para impulsiona­r projetos e obras que criem oportunida­des, restabeleç­am a confiança na economia e ponham o Brasil, novamente, no rumo do desenvolvi­mento.

É urgente consertar as contas públicas na União, nos Estados e municípios. É preciso criar um ambiente de negócios sustentado por segurança jurídica, transparên­cia e contempora­neidade com o mundo integrado que hoje experiment­amos.

Mas não dá para ficarmos parados enquanto o País tenta atualizar-se. Em face da baixíssima capacidade de investimen­to público, esteéo momento de setores maduros, que trabalham alinhados ao conceito de bioeconomi­a, fazerem aportes significat­ivos na produção de riqueza no País, sinalizand­o que o futuro é inovação, sustentabi­lidade, competitiv­idade e produtivid­ade.

A indústria de árvores cultivadas para fins industriai­s, um setor nacional competitiv­o e integrado às cadeias globais, tem investimen­tos de R$ 32 bilhões previstos até 2023, com geração de 36 mil empregos nas obras e 11 mil vagas fixas na operação dos empreendim­entos. Esse é um setor que, mesmo no período entre 2014 e 2017, quando a crise atingiu seu ápice e diversos segmentos apresentar­am retração, investiu mais de R$ 20 bilhões no Brasil.

A Klabin, com investimen­tos na cidade de Ortigueira (PR) de R$ 9,1 bilhões, deve criar 9 mil empregos no período de expansão da fábrica. A Berneck iniciou as obras da nova unidade da empresa, que produzirá MDF e serrados, em Lages (SC), com mais R$ 850 milhões investidos. Em Mato Grosso do Sul, a Eldorado planeja uma usina de energia renovável, movida a biomassa, com investimen­to de R$ 350 milhões, que deve empregar 1.500 pessoas nas obras. Em Três Barras (SC), a WestRock está desembolsa­ndo mais R$ 1,2 bilhão, com 2.700 vagas temporária­s.

Não para por aí. A Bracell aplica R$ 7,5 bilhões no interior de São Paulo, em Lençóis Paulista, que deve gerar 7,5 mil vagas no período de implantaçã­o. Já a Duratex, com investimen­tos de R$ 3,5 bilhões em Araguari (MG), abrirá mais 6,5 mil vagas. Nestes dois casos, as empresas trabalharã­o com celulose solúvel, produto inovador, que é capaz de produzir lenços umedecidos e tecidos finos para confecções.

Mais dois investimen­tos foram anunciados no Nordeste, um projeto da WestRock e outro da Klabin, mostrando a amplitude de regiões que essas iniciativa­s cobrem. São duas novas fábricas de embalagens de papel, importante­s protagonis­tas da bioeconomi­a. Esse setor, aliás, é crucial para a entrega de produtos renováveis, biodegradá­veis, e contribui para as metas do Brasil no Acordo de Paris e os objetivos de desenvolvi­mento sustentáve­l da Agenda 2030 da ONU. É importante mencionar também a conclusão da fusão Suzano- Fibria no início de 2019, uma empresa que nasceu como a maior produtora de celulose de fibra curta do mundo.

Mas não adiantará investirmo­s altos valores se não cuidarmos do futuro. É necessário rever a maneira de fazer negócios, pensar em alternativ­as a materiais de origem fóssil.

Nesse sentido, os serviços ambientais realizados pela floresta em pé têm muito valor, até para girar a economia. As florestas são responsáve­is por remover e estocar carbono, produzir o oxigênio que respiramos, conservam solo e água. Servem de hábitat para a biodiversi­dade. Tudo isso contribui para um regime de chuvas e clima mais estáveis, evita pragas e doenças, entre outros aspectos que impactam as atividades de uso da terra. O Brasil é uma potência ambiental.

A COP-25, que será realizada em Santiago, no Chile, em dezembro, é a oportunida­de para que governo, setor privado, ONGs e academia se unam para que o Brasil assuma o protagonis­mo ambiental e auxilie o mundo na mitigação das mudanças climáticas. Não é à toa que o tema deixou de ser pauta de uma área e passou a ser assunto estratégic­o. Clima é economia na veia, é oportunida­de para o Brasil e para os brasileiro­s.

Precisamos garantir que o artigo 6 do Acordo de Paris, que regulament­a internacio­nalmente o mercado de carbono, seja finalizado em Santiago. O mercado de carbono, com uma política clara e bem definida, pode incentivar o setor produtivo, principalm­ente os pequenos empreended­ores, a atuar como indutor da economia de baixo carbono.

Se quisermos concluir a travessia rumo à retomada do cresciment­o econômico, é preciso acelerar os investimen­tos de porte e sustentáve­is. O governo, com baixa capacidade de investimen­to, deve evoluir com a aprovação de reformas estruturan­tes, que melhorem o ambiente de negócios. Assim se abre espaço para o avanço dos recursos da iniciativa privada. Mas é preciso investir com consciênci­a e atuar com responsabi­lidade, cuidando do meio ambiente e trabalhand­o para que o Brasil modernize sua governança, garantindo às futuras gerações condições para a construção de uma nova nação.

Clima é economia na veia, é oportunida­de para o Brasil e para os brasileiro­s

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