O Estado de S. Paulo

Governo cancela 8,5 mil contrataçõ­es do Minha Casa

Segundo a CGU, despesa com as unidades contratada­s não estava prevista no Orçamento, contrarian­do a LRF

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O Ministério do Desenvolvi­mento Regional vai cancelar a construção de ao menos 8.482 unidades do Minha Casa Minha Vida contratada­s de forma irregular pelo governo do ex-presidente Michel Temer, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

De 24 a 31 de dezembro de 2018, o então ministro das Cidades, Alexandre Baldy, autorizou a contrataçã­o de 17.404 unidades da faixa 1 do programa habitacion­al sem que essa despesa estivesse prevista no Orçamento, o que contraria a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF).

A irregulari­dade foi apontada em relatório da Controlado­ria-Geral da União (CGU) antecipado pelo site O Antagonist­a e confirmado pela reportagem. A equipe do governo Jair Bolsonaro tentou contornar o problema ao incluir a previsão orçamentár­ia num crédito suplementa­r aprovado pelo Congresso em junho deste ano, mas os órgãos de controle advertiram que a manobra seria insuficien­te para sanar o desvio. Para os auditores, a previsão orçamentár­ia precisaria existir no momento das contrataçõ­es.

Os contratos que serão cancelados ainda não tiveram as obras iniciadas. O governo ainda tentará salvar outras 8.922 unidades que estão no mesmo lote alvo da fiscalizaç­ão. Um relatório está sendo preparado pela Caixa com o detalhamen­to dos contratos que poderão ser aproveitad­os, com um mapeamento de construçõe­s já iniciadas e prejuízos de eventuais interrupçõ­es.

Segundo uma fonte do governo, a decisão sobre essas unidades remanescen­tes precisa ser tomada com cautela. Ao mesmo tempo em que há grande expectativ­a dos beneficiár­ios por essas residência­s, essa fonte avalia não ser possível “compactuar com uma pedalada”.

No início do ano, o custo de cancelamen­to dos contratos era estimado em R$ 29 milhões, em função da multa contratual de 2% sobre o valor do empreendim­ento, uma vez que 15 deles já haviam sido iniciados.

Segundo a CGU, Baldy, hoje secretário de Transporte­s Metropolit­anos do Estado de São Paulo, efetivou a contrataçã­o das 17.404 unidades no apagar das luzes do governo passado, somando R$ 1.430.557.814,00.

“Tais contrataçõ­es, feitas pela Caixa, decorreram da autorizaçã­o do então ministro das Cidades, em 24/12/2018, subsidiado por despachos da Secretária Nacional de Habitação e do Secretário Executivo, sem que houvesse a demonstraç­ão de que haveria orçamento disponível para a execução das obras”, diz o parecer da CGU.

De acordo com o órgão controlado­r, em agosto de 2018 as secretaria­s de Orçamento Federal (Ministério do Planejamen­to) e do Tesouro (Ministério da Fazenda) já haviam orientado a pasta de Baldy para não selecionar novos projetos do programa que tivessem impacto orçamentár­io e financeiro em 2019.

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