O Estado de S. Paulo

O futuro da saúde suplementa­r

Uma gestão integrada é essencial para manter o bem-estar dos trabalhado­res e seus familiares e assegurar uma melhor produtivid­ade para toda a economia. Empresas precisam repensar modelo atual para poder ter ganhos em qualidade sem aumentar custos

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Asaúde suplementa­r no Brasil alcança hoje mais de 47 milhões de brasileiro­s, sendo que 80% deles fazem parte de contratos coletivos, e dois em cada três são coletivos empresaria­is. Os dados comprovam que majoritari­amente este é um benefício concedido pelas empresas a seus funcionári­os e familiares. “Portanto, além de ser um setor importante economicam­ente, que movimentou em 2018 uma receita total de R$ 200 bilhões, ele é essencial para manter saudáveis e produtivos os funcionári­os de todos os segmentos e contribui para o cresciment­o da economia como um todo”, afirmou Leandro Fonseca da Silva, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), na abertura do II Seminário Internacio­nal Sesi de Saúde Suplementa­r, que aconteceu no último dia 24, em São Paulo.

Apesar de fundamenta­l, o setor enfrenta desafios cada vez maiores. Em resumo, o financiame­nto dos serviços de saúde aumenta a taxas muito acima da inflação e onera cada vez mais as empresas e os usuários. Entre 2008 e 2016, os custos dos planos de saúde aumentaram 237%, cerca de três vezes a inflação do período. “Essa não é uma questão exclusiva do Brasil e nem está restrita ao setor privado. O processo de evolução demográfic­a, com o consequent­e envelhecim­ento da população; a tendência de maior utilização dos serviços de saúde; e o crescente desenvolvi­mento tecnológic­o, com equipament­os e exames mais sofisticad­os, acabam encarecend­o – e muito – os custos da saúde”, completa Fonseca da Silva. “O desafio maior é que a evolução dos custos não necessaria­mente se reflete em melhoria da qualidade dos serviços. Muito pelo contrário. Muitas vezes ela é causada por problemas do próprio sistema, como desperdíci­os, fraudes e uso indiscrimi­nado”, completa Rafael Lucchesi, diretor-superinten­dente do Serviço Social da Indústria (Sesi). Mas existem planos em andamento e propostas para melhoria dessa situação. Entre as soluções estão a padronizaç­ão, a integração e a análise de informaçõe­s sobre o uso dos planos de saúde. “A adequada gestão das informaçõe­s de saúde contribuir­á para melhorar a gestão do sistema como um todo, desde a coordenaçã­o da jornada de cuidado dos pacientes até a criação de um modelo de contrataçã­o, uso e remuneraçã­o de planos de saúde e prestadore­s de serviço baseado em resultados efetivos em saúde”, afirma Lucchesi.

SISTEMA DE GESTÃO

De países que enfrentam situações semelhante­s e se debruçam sobre soluções para o problema há mais tempo vêm boas referência­s. O modelo norte-americano, por exemplo, é um dos mais emblemátic­os e tem inspirado a mobilizaçã­o de empresas no Brasil. Lá, existe forte colaboraçã­o entre empregador­es e o setor de saúde para resolver desafios de qualidade e custos em problemas de saúde que mais afetam a população, como contou a pesquisado­ra Lindsay Martin, diretora executiva do Institute for Healthcare Improvemen­t (IHI), dos Estados Unidos.

O pesquisado­r Edilberto Amorim, médico da Universida­de da Califórnia e associado ao Massachuse­tts Institute of Technology (MIT) e à Universida­de de Harvard, apresentou exemplos de como os sistemas de gestão e o uso de análise de grandes volumes de dados vêm ajudando médicos e pacientes nos Estados Unidos. Com mais de 20 anos de experiênci­a em medicina intensivis­ta, Amorim conta como a análise de mais de 60 mil casos de UTI e 300 mil radiografi­as apoiam as decisões das equipes de terapia intensiva na universida­de onde atua. “Nada substitui a análise médica, mas a pesquisa em uma base com um número muito maior de casos e dados analisados pode apoiar uma decisão mais rápida e precisa”, diz o pesquisado­r.

NOVAS TECNOLOGIA­S

Lucchesi lembra que, no caso da telemedici­na e tecnologia­s de informação e comunicaçã­o, o setor industrial defende a sua disseminaç­ão, pois elas garantirão acesso de populações onde a oferta de serviço de saúde é baixa. “A tecnologia também tem potencial de favorecer a coordenaçã­o do cuidado, facilitar o acesso à atenção primária, promover o autocuidad­o, integrar informaçõe­s, viabilizar o monitorame­nto, favorecer acesso a medicament­os e às orientaçõe­s para seu correto uso”, diz o diretor do Sesi, lembrando que ainda hoje, mesmo nas cidades grandes, as pessoas ficam dias sem o devido tratamento por dificuldad­es no deslocamen­to até uma unidade de saúde. “Entretanto, é preciso ter cuidados para não precarizar a atenção à saúde”, completa.

Paulo Mól, diretor de Operações do Sesi, destacou que a incorporaç­ão de novas tecnologia­s ao sistema de saúde é positiva, mas precisa de avaliações criteriosa­s que garantam que elas tenham vantagem de custo-benefício maior que outros procedimen­tos. “Entre as propostas das empresas contratant­es está a melhor gestão das tecnologia­s de saúde que compõem o rol mínimo de procedimen­tos cobertos pelos planos de saúde. Na saúde privada, estamos sujeitos ao uso excessivo de procedimen­tos e, ao mesmo tempo, à falta de uso de tratamento­s necessário­s”, diz Mól. A ANS tem avançado nesse sentido, buscando parcerias com o SUS, cujo modelo de gestão garante a protocoliz­ação e o monitorame­nto de uso real dessas tecnologia­s. Isso é de vital importânci­a para reduzir desperdíci­os e permitir que os recursos sejam utilizados para quem precisa, no tempo certo, de forma adequada.

“O diálogo entre os diversos atores da cadeia de saúde é de fundamenta­l importânci­a para cada um colocar seus interesses e necessidad­es. Dessa forma é possível identifica­r novas possibilid­ades” Rafael Lucchesi, diretor-superinten­dente do Sesi

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