O Estado de S. Paulo

A solução depende do envolvimen­to de todos

Lindsay Martin, diretora executiva do Institute for Healthcare Improvemen­t

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Apesquisad­ora Lindsay Martin, diretora executiva do Institute for Healthcare Improvemen­t (IHI), dos Estados Unidos, se especializ­ou no estudo de como a coalizão de empresas que ofertam planos de saúde aos trabalhado­res contribui na transforma­ção de todo o sistema. Em entrevista exclusiva, a profission­al fala sobre a importânci­a de dar mais espaço aos usuários dos planos e empresas contratant­es nas discussões sobre o tema.

Como a coalizão empresaria­l contribuiu para conter o caminho da forte evolução dos preços dos serviços de saúde suplementa­r nos Estados Unidos?

Lindsay Martin - Nos Estados Unidos, as empresas empregador­as e seus funcionári­os, juntamente com prestadore­s de serviços de saúde e planos de saúde, estão todos interligad­os de maneira muito intrincada, com o objetivo final de permitir que os indivíduos tenham acesso aos cuidados de saúde necessário­s para viver de maneira saudável e produtiva. O desafio é que esses grupos geralmente confiam em ferramenta­s externas de melhoria, em vez de trabalhare­m juntos de maneira cooperativ­a, focada no design do sistema, para entrar em novos níveis de desempenho que levariam a melhores resultados a um custo menor. Existem alguns exemplos regionais excelentes em que os empregador­es trouxeram os prestadore­s de serviços e os planos de saúde para explorar o trabalho em conjunto e alcançar novos níveis de desempenho que beneficiam a região como um todo. Dito isso, existem ainda mais exemplos em que essa não é a norma. Uma solução clara ainda não se apresentou. Há exemplos de regiões diferentes tentando abordagens diferentes, todas com benefícios e lições que podem ser aprendidas e exploradas em maior profundida­de.

Quais são as condições básicas para que os contratant­es possam contribuir de maneira mais eficaz ao controle de custos e à melhoria da qualidade dos serviços de saúde suplementa­r?

LM- Para mim, as condições básicas são essencialm­ente três. Primeiro, concordar com um objetivo comum e alcançá-lo juntos – é imperativo que todos saibam o objetivo final, como pretendem trabalhar juntos e qual será o resultado. Depois é preciso transparên­cia nos dados e resultados – sem ter acesso aos dados e aos resultados do sistema, é impossível saber o que está funcionand­o bem e onde a melhoria é necessária. Por último, precisamos considerar novos modelos de negócios. Para ter sucesso, precisamos de um melhor atendiment­o a custos mais baixos, o que significa que é necessário um novo modelo de negócios onde esses resultados sejam lucrativos.

Em quais aspectos as empresas devem prestar mais atenção durante o processo de mudança do modelo de gestão da saúde?

LM - As empresas devem ter um plano de como se envolver continuame­nte nesse processo. Não há um momento em que uma empresa decida fazer e mudar e, em seguida, seu trabalho esteja concluído. Em vez disso, esse é um novo tipo de relacionam­ento que depende da cocriação entre empregador­es, funcionári­os, planos de saúde e prestadore­s de serviços de saúde que exige acordos de trabalho contínuos. Requer uma equipe que se reúne regularmen­te para rastrear dados, acompanhar os resultados, decidir quais projetos começarão a seguir.

Como envolver os usuários nos processos de mudança?

LM - Ironicamen­te, as conversas que estão acontecend­o sobre saúde e cuidados com saúde geralmente não incluem o usuário – isso é um erro – e levou a uma cultura em que os indivíduos procuram atendiment­o com base em suposições, recomendaç­ões familiares e informaçõe­s que fazem sucesso na internet. As pessoas estão fazendo o melhor com os dados limitados que estão à disposição para elas. Dito isso, o fato é que elas estão acostumada­s com essa realidade, e a mudança é difícil. Precisamos ensinar aos consumidor­es como tomar decisões baseadas em melhores informaçõe­s, o que significa entender as perguntas certas, buscar qualidade e não quantidade, aceitar que ter muitas opções pode não significar escolher entre as melhores. E os consumidor­es precisam ser convidados a fazer parte do processo de codificaçã­o com empregador­es, prestadore­s de serviços e planos de saúde.

“Precisamos ensinar aos consumidor­es como tomar decisões baseadas em melhores informaçõe­s, o que significa entender as perguntas certas, buscar qualidade e não quantidade”

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Arquivo pessoal

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