Exemplos de uma transformação possível
Iniciativas nacionais e internacionais mostram que foco na atenção primária, atendimento integrado, prevenção e mudança na mentalidade de usuários e médicos trazem resultados
Os desafios do setor de saúde suplementar não são poucos. Porém, iniciativas que utilizam foco na atenção primária, atendimento integrado, prevenção e mudança na mentalidade de usuários e médicos já começam a aparecer no mundo todo com resultados significativos. Um exemplo é o Plano de Inovação em Saúde de Porto Rico, apresentado após o II Seminário
Internacional Sesi de Saúde Suplementar, realizado na última terça-feira, dia 24, em São Paulo. O evento, que contou com a presença de mais de 300 representantes de empresas, reuniu algumas das mais importantes experiências internacionais e nacionais com o objetivo de debater maneiras de aumentar a qualidade dos serviços prestados sem pesar ainda mais no bolso dos usuários e das empresas contratantes.
Iniciado em janeiro de 2016, o projeto de Porto Rico teve como foco inicial o tratamento de diabetes, começando pela definição de métricas e de três tipos de pacientes que seriam priorizados pelo governo. “Com ele, maximizamos a produtividade da força de trabalho e criamos a jornada do paciente com base nos dados. Ela nos permite conversar com todo o ecossistema sobre a jornada de cada doença a ser tratada”, diz Luis Peres, presidente da Faro, consultoria especializada em gestão de saúde. A empresa, em parceria com o governo daquele país, desenvolveu todo um plano de atendimento integrado que resultou nesse projeto e trouxe redução de custos, melhoria nos diagnósticos e oferta dos recursos adequados aos pacientes corretos.
No Brasil, já começam a tomar corpo discussões que devem levar a resultados semelhantes aos de Porto Rico. A presidente da Associação Paulista de Medicina do Trabalho, Flavia de Almeida, reconhece que, em alguns casos, os médicos do trabalho já não se preocupam apenas com os exames clínicos, mas com a saúde integral do trabalhador. “Nosso desafio hoje é tentar ampliar essa visão para todos os médicos do trabalho. Temos que dar um passo a mais”, afirma.
COLABORAÇÃO É O CAMINHO
Para Emad Musleh, diretor de Relações Corporativas da Novartis, a saída para o setor está na cooperação e na colaboração entre os diversos agentes. Ele afirma que a própria companhia está se reinventando e, com isso, encontrando novas formas de se relacionar com o mercado e internamente. “Nosso segredo é que trabalhávamos com distribuidores e descobrimos que tínhamos que trabalhar com demanda. Trabalhávamos com médicos e descobrimos que tínhamos que trabalhar com pacientes. Dentro de casa, passamos de uma estrutura hierárquica para uma em que ouvimos todas as pessoas”, revela.
Quem também vem mudando internamente é a companhia biofarmacêutica AbbVie. “Hoje nos concentramos em um foco importante que é a educação. Por mais inovador que seja, um produto não transforma essa situação”, explica Camilo Gomez, gerente-geral da companhia. Nesta linha, a empresa vem criando iniciativas educacionais com foco em três públicos: funcionários, que devem ser transformados em agentes de mudanças; médicos, que precisam entender mais sobre economia de saúde; e o público em geral, este por meio de livros criados pela empresa.
A União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), por sua vez, aposta em uma plataforma de serviços que pretende colocar no ar a partir de outubro. O presidente da companhia, Anderson Mendes, explica que a plataforma servirá para que as empresas que fazem autogestão em saúde compartilhem experiências e, juntas, trabalhem melhor para que todos ganhem. O executivo reconhece, no entanto, que ainda há um longo caminho para que o mercado absorva novos conceitos, como o de saúde baseada em valor, e passe a trabalhar efetivamente com eles. “Todos vamos perder alguma coisa. Ou receita, ou resultado, mas isso será necessário para a acomodação do setor. Com o sistema como está hoje, fica difícil discutir sustentabilidade”, afirma.
“Nosso foco é criar a jornada do paciente com base nos dados. Ela nos permite conversar com todo o ecossistema sobre a jornada de cada doença a ser tratada” Luis Peres, presidente da Faro