O Estado de S. Paulo

Dívida de SP bate no teto após quatro anos

Cidade alcança quase R$ 5 bi em débitos; Covas articula para mudar regra de gastos

- Bruno Ribeiro

Quatro anos após a cidade de São Paulo renegociar sua dívida com a União, conseguir a liberação para pedir novos empréstimo­s e aumentar os níveis de investimen­tos, o prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou, anteontem, que a capital paulista voltou a atingir o teto de endividame­nto. Agora, ele tenta uma articulaçã­o no Senado para uma mudança de regras que liberaria novos gastos.

Essa negociação passa por uma ação do senador José Serra (PSDB), que esteve no gabinete de Covas na sexta-feira. Serra vai atuar junto aos senadores para tentar reverter um parecer da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional que inclui o pagamento de precatório­s (dívidas que tiveram o pagamento determinad­o pela Justiça) no cálculo dos limites de endividame­nto das cidades.

Uma resolução do Senado de 2001 determina que o teto de pagamento anual da dívida dos municípios brasileiro­s é de 11,5% do valor total da Receita Corrente Líquida (RCL) – o valor arrecadado pela Prefeitura com impostos, multas e taxas, mas sem contar os valores recebidos por meio de transferên­cias legais do Estado e da União.

Na cidade de São Paulo, esse valor chega a quase R$ 5 bilhões, uma vez que a RCL é de cerca de R$ 51 bilhões. Dessa forma, a cidade pode ter um total de dívidas cujo pagamento não passe de R$ 5 bilhões por ano.

Entretanto, em 2017, a Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional publicou parecer, que passou a ser seguido em todo o País, determinan­do que o pagamento dos precatório­s seja contabiliz­ado dentro deste limite.

No caso de São Paulo, no lugar de a cidade ter R$ 5 bilhões liberados para pagar parcelas de financiame­nto, seria preciso primeiro abater os cerca de R$ 1,9 bilhão pagos em precatório­s, o que resultaria em um saldo perto de R$ 3 bilhões por ano. Mas cerca de R$ 2 bilhões desse total já estão comprometi­dos com dívidas já assumidas, a maior delas com o governo federal.

“Isso faz com que, agora, a Prefeitura de São Paulo volte a deixar de poder contrair empréstimo­s de curto prazo, porque somando os empréstimo­s já obtidos mais a dívida de precatório, a gente volta a ultrapassa­r

“Foi uma intromissã­o da Procurador­ia em uma decisão do Senado. (...) É claro que isso não afeta só São Paulo.” Bruno Covas PREFEITO (PSDB)

“Vamos trabalhar para que a cidade possa aumentar seu investimen­to.” José Serra SENADOR (PSDB-SP)

os 11,5%”, disse Covas.

Um agravante, para os técnicos da Prefeitura, é que a previsão de gastos com o pagamento dos precatório­s é crescente. Em 2024, o volume a ser pago de precatório­s é de R$ 5,8 bilhões, por exemplo.

O entendimen­to de Covas e sua equipe é que o parecer da Procurador­ia

foi um “entendimen­to exagerado” da resolução do Senado. “Foi uma intromissã­o da Procurador­ia em uma decisão do Senado”, disse o prefeito. “É claro que isso não afeta só São Paulo.”

Serra, por sua vez, disse que o que será feito é uma “correção de distorções” no Senado. “O que nós queremos é que fique a interpreta­ção que sempre teve vigência e com isso a cidade possa se endividar para poder investir”, afirmou. “Vamos trabalhar para que a cidade possa aumentar seu investimen­to em corredores de ônibus, calçamento, tudo aquilo que a Prefeitura faz e que é tão importante para a vida das pessoas.”

A proposta de mudança deve ser analisada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. A ideia é que os senadores fixem uma nova resolução, que teria força de lei.

O tema vem sendo tratado

também na Frente Nacional de Prefeitos. O secretário executivo da entidade, Gilberto Perre, afirmou ao Estado que “vários municípios” têm procurado seus representa­ntes parlamenta­res para tratar do tema. “Há um volume de precatório­s grande, e alguns são muito antigos, até da década de 1980”, disse.

Curto prazo. Covas ressaltou que nenhuma ação dentro de seu plano de metas corre risco de não ser feita por falta de dinheiro. “O que a gente já tem são projetos já aprovados.” O risco, segundo afirmou, seria a impossibil­idade de pegar novos financiame­ntos para os próximos prefeitos da capital.

O prefeito deu exemplo de empréstimo obtido com o Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento (BID) para a área da saúde, que foi assinado em julho. “Iniciamos as tratativas em

2017.” Até o fim do ano, Covas deve pedir à Câmara Municipal autorizaçã­o para contratar uma linha de crédito para construir mais corredores de ônibus.

A cidade ficou sem poder contratar empréstimo­s para fazer investimen­tos públicos entre os anos de 2001 e 2014, por causa de dívidas acumuladas a partir da gestão Marta Suplicy (então no PT) com a União.

Em 2015, essa dívida foi renegociad­a pelo prefeito Fernando Haddad (PT). A renegociaç­ão fez com que o saldo devedor caísse de R$ 73 bilhões para R$ 23 bilhões, em valores da época.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Prefeito. Covas defende mudança em parecer da Fazenda que inclui precatório­s no cálculo de endividame­nto da cidade
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