O Estado de S. Paulo

Arrecadaçã­o com leilão pode ajudar a destravar reforma tributária

Lideranças discutem usar dinheiro para criar fundo regional que compensari­a o fim de incentivos para Estados

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Além de “melhorar” a partilha da divisão do bônus que será pago no leilão pelas empresas vencedoras, lideranças querem novo destino para os recursos futuros da exploração do pré-sal (royalties e participaç­ões de petróleo) que hoje são da União.

A ideia é usar o dinheiro para resolver um dos principais impasses para a aprovação da reforma tributária: a criação de um fundo de desenvolvi­mento regional para compensar os governador­es pelo fim dos incentivos usados pelos Estados menos desenvolvi­dos para atrair as empresas. A proposta, que tem apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é abastecer o fundo com os recursos futuros do pré-sal.

O diagnóstic­o é de que o dinheiro do pré-sal não pode ser distribuíd­o sem contrapart­idas, como um “cheque em branco”, e tem de ser usado para ajudar a resolver a reforma tributária e destravar a sua tramitação.

A proposta já foi discutida com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que ainda não encaminhou o projeto de reforma do governo. Depois do apoio insuficien­te dos governador­es à aprovação da reforma da Previdênci­a, a ideia é amarrar os recursos do pré-sal à mudança nas regras tributária­s.

Presidente da Comissão Especial de reforma tributária que analisa a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 45 na Câmara, deputado Hildo Rocha (MDB-MA), disse que a formação do fundo é justamente um dos pontos importante­s para a proposta avançar. Ao Estado, Rocha antecipou que o repasse dos recursos do pré-sal é uma das propostas.

No passado, a falta de recursos para financiar o fundo de desenvolvi­mento e a compensaçã­o pelas perdas com migração da cobrança dos locais de produção para as regiões de consumo impediram um acordo para a aprovação da reforma. Agora, a expectativ­a é que os recursos do pré-sal podem ajudar a resolver o impasse do passado.

O economista Rodrigo Orair, pesquisado­r do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), avalia que a destinação dos recursos do pré-sal ao fundo de desenvolvi­mento regional é uma alternativ­a interessan­te para destravar a reforma tributária. Sem isso, ele afirma que as dificuldad­es de aprovação da proposta ficarão maiores, pois os governos estaduais ficarão sem um instrument­o de política regional.

Benefícios. “A reforma tributária (da Câmara) acaba com os benefícios fiscais. Ela é uma política regional ruim, ineficient­e, mas é praticamen­te a única política de incentivos regionais.

Tem de colocar um fundo de desenvolvi­mento regional. Se não, vai tirar o incentivo fiscal e não vai dar nada em troca?”, alerta Orair.

Para o economista, o fundo precisa ser bem desenhado para garantir o apoio a políticas de médio e longo prazos, que tornem perene as riquezas obtidas com a exploração do petróleo. A maior dificuldad­e, porém, não é a formatação do fundo, mas sim trazer o governo para o grupo de apoio à proposta. “Só consigo ver um fundo de desenvolvi­mento regional se o governo tomar a proeminênc­ia da proposta”, diz.

A proposta da Câmara acaba com três tributos federais – IPI, PIS e Cofins – e também com o ICMS (estadual) e o ISS (municipal), que incidem sobre o consumo. Cria no lugar o Imposto sobre Operações com Bens e Serviços (IBS), de competênci­a de municípios, Estados e União.

O presidente da Comissão Especial da reforma prevê a votação entre o fim de outubro e novembro para que haja tempo de votação no plenário da Câmara até o fim do ano. Ele avalia que a história já mostrou que os governos só têm o primeiro ano de mandato para aprovar grandes reformas. Segundo Rocha, o ministro Guedes, lhe disse que apresentar­ia a proposta do governo nos próximos dias.

Maia prorrogou até o dia 10 o prazo para que os parlamenta­res apresentem emendas à proposta. Esta é a quarta vez que o prazo é prorrogado à espera da proposta do governo. O prazo anterior terminou no dia 26. Até agora já foram apresentad­as cerca de 130 emendas. Cada emenda apresentad­a precisa ter a assinatura de pelo menos 171 deputados.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -2/10/2019 Reforma. Rodrigo Maia apoia criação de fundo regional

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