Programação homenageia os 90 anos de Fernanda Montenegro
Personalidade. Leitura de Nelson Rodrigues e exibição de ‘Central do Brasil’ lembram o aniversário da atriz
Será um domingo intenso para Fernanda Montenegro, em São Paulo. Às 16h, ela participa de uma leitura dramática de Nelson Rodrigues, no Teatro Municipal. Às 16h30, comemorando os 26 anos do Espaço Itaú de Cinema, haverá sessão especial de Central do Brasil, de Walter Salles, em versão restaurada. A expectativa é de que Fernanda consiga dar uma passadinha pelo local.
Fernanda completa 90 anos no dia 16. É a primeira a admirar-se: “90 anos! Não é todo dia que a gente comemora estar chegando longe assim”. Apesar dos percalços, como haver sido chamada de ‘sórdida’ pelo diretor da Funarte, Roberto Alvim – a categoria reagiu, solidária com ela –, a atriz, em conversa com o repórter, fez uma observação das mais pertinentes.
“Até por força desse carinho que estou recebendo, o livro com minha autobiografia, as leituras dramáticas, a retrospectiva no Canal Brasil, tenho parado para refletir sobre o tanto que fiz. Fiquei impressionada com a quantidade de filmes. São muitos. Mas o que me levou ao cinema foi o teatro.” Atriz de rádio, teatro, cinema e TV. A estreia foi com Nelson Rodrigues, numa adaptação de Leon Hirszman. Zulmira, A Falecida.
“Glauber Rocha me convidou para fazer Terra em Transe,
mas estava escrito que ele faria o filme, genialmente, com a Glauce (Rocha). Terminei fazendo Nelson, o pornógrafo, com o Leon, que era do Partidão. Era um set todo de esquerda para honrar o Nelson, que era de direita. Acho que a grande diferença desses tempos
sombrios que vivemos está no moralismo, que hoje é muito maior. Um moralismo que nos está sendo imposto, à força.”
Fernanda guarda um carinho especial por certos filmes – A Falecida, Central, Casa de Areia. O último fez com a filha, Fernanda Torres, dirigidas pelo genro e marido, Andrucha Waddington. “No Brasil, sumiu, mas no exterior foi consagrado pela crítica. Talvez seja o filme mais brasileiro de todos, o que mais nos reflete. Aquelas duas mulheres num areal imenso. A casa construída na areia, sem fundações. O Brasil parece assim. Sempre recomeçando, uma nova casa na areia. O que esse país precisa é de fundações. Infraestrutura, educação, saúde. Quando essa gente vai descobrir que a cultura é um bem comum?”
Na terça e quarta, na retrospectiva do Canal Brasil, passam, na faixa das 22h, O Tempo e o Vento e Traição. “Erico Verissimo é um monumento literário e o filme (de Jayme Monjardim) honra o grande escritor.” Traição, outro Nelson (Rodrigues), outro Andrucha, outra vez Fernanda Torres.