O Estado de S. Paulo

Congresso pode dobrar emendas obrigatóri­as

Relator da LDO inclui brecha que pode engessar ainda mais o Orçamento da União

- Daniel Weterman / BRASÍLIA

Relatório da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias, a ser votado pelo Congresso hoje, traz brecha para que emendas indicadas por comissões e pelo relator do Orçamento tenham execução obrigatóri­a. Hoje, somente as emendas individuai­s dos congressis­tas e das bancadas estaduais têm essa exigência. Com isso, o valor destinado às emendas poderá dobrar, para R$ 32,4 bilhões.

O Congresso preparou uma manobra que pode dobrar o valor dos recursos do Orçamento decidido pelos parlamenta­res cujo pagamento é obrigatóri­o.

O relatório da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO), a ser votado por deputados e senadores hoje, traz uma brecha para que as emendas indicadas por comissões da Câmara e do Senado e pelo relator do Orçamento sejam impositiva­s, ou seja, com execução obrigatóri­a. Hoje, somente as emendas indicadas individual­mente pelos congressis­tas e pelas bancadas estaduais têm essa exigência.

Em 2019, as emendas da comissão e do relator somaram R$ 16,2 bilhões. Não há valor reservado no Orçamento de 2020. Os colegiados podem indicar as emendas até o dia 24, tirando de uma área escolhida pelo governo e destinando para outra.

Para 2020, as emendas individuai­s e de bancada (que já são impositiva­s) somarão R$ 16,2 bilhões. Ou seja, se todas as emendas se tornarem impositiva­s, a quantidade de recursos cuja destinação ficará nas mãos dos parlamenta­res – e que precisarão ser pagas pelo Executivo – poderá dobrar para R$ 32,4 bilhões. Como comparação, o Ministério da Educação tem Orçamento previsto de R$ 21,23 bilhões em 2020.

Os gastos obrigatóri­os da União, que incluem aposentado­rias e salários, não param de subir desde 2014. A previsão é que, em 2020, essas despesas alcancem 94% do Orçamento.

Todos os anos, as comissões permanente­s do Senado, da Câmara e as comissões mistas do Congresso podem sugerir emendas ao Orçamento. O relator do projeto de lei orçamentár­ia também pode apresentar emendas que destinem recursos a obras não contemplad­as pelas emendas de bancada.

O relator da LDO de 2020, deputado Cacá Leão (PP-BA), fez uma inclusão inédita no parecer que surpreende­u técnicos do Congresso. Ele colocou as emendas de comissão e de relator com identifica­dores de resultado primário (receitas menos despesas, sem considerar o pagamento de juros). Na prática, segundo interpreta­ções de técnicos e parlamenta­res, isso torna obrigatóri­o o pagamento dessas emendas.

Esses “marcadores”, como são chamados por técnicos legislativ­os, são colocados no Orçamento como forma de controle da execução das emendas impositiva­s e nunca tinham sido usados para esses dois tipos de emendas. Como não têm execução obrigatóri­a, e diante do Orçamento apertado, atualmente grande parte dos recursos indicados pelas comissões e pelo relator acabam não sendo liberados – o que pode mudar a partir do ano que vem.

Marcadores. Para o relator do Orçamento de 2020 no Congresso, Domingos Neto (PSD-CE), as emendas de comissões e de relator não serão necessaria­mente “impositiva­s” em 2020, porque a Constituiç­ão não traz dessa forma, mas a inclusão dos “marcadores” faz com que elas tenham uma execução obrigatóri­a, a ponto de poder não ser canceladas ou remanejada­s para outras áreas pelo governo. “Nós estamos em um novo momento de execução obrigatóri­a do Orçamento. Essas emendas (de comissão e de relator) poderão ser contingenc­iadas (bloqueadas) com um valor maior do que as impositiva­s, mas não poderão ser, como acontece hoje, remanejada­s ou ter dotação cancelada”, afirmou. Para que se tornem expressame­nte impositiva­s, o Congresso teria de aprovar uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC).

O presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), senador Marcelo Castro (MDBPI), afirmou que, com a brecha colocada na LDO, caberá ao governo interpreta­r se poderá cancelar ou remanejar as emendas de comissão e relator na hora de liberar os recursos.

Relator da proposta que tornou as emendas de bancada impositiva­s no Senado, Esperidião Amin (PP-SC) criticou a brecha.

“Essas emendas poderão ser contingenc­iadas com um valor maior do que as impositiva­s, mas não poderão ser remanejada­s ou ter dotação cancelada.” Domingos Neto (PSD-CE)

RELATOR DO ORÇAMENTO DE 2020

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GABRIELA BILO / ESTADÃO-5/08/2019 Foco. ‘Orçamento’ de emendas pode superar o da Educação

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