O Estado de S. Paulo

• Contas de brasileiro­s em dólar

Projeto de lei facilita as operações de empresas e de famílias que têm filhos que estudam no exterior.

- Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

Hoje, as regras que regem as operações de câmbio estão espalhadas por 420 artigos de mais de 40 dispositiv­os legais. Alguns datam da década de 1920.

O Banco Central lançou ontem as bases para que remessas de dólares entre o Brasil e outros países sejam facilitada­s. Isso será possível tanto para empresas exportador­as e importador­as de mercadoria­s quanto para famílias com filhos que estejam estudando no exterior.

As mudanças fazem parte de projeto de lei, encaminhad­o pelo governo Bolsonaro ao Congresso, que moderniza a legislação cambial no Brasil. O texto também pode abrir caminho para pessoas físicas terem contas em moeda estrangeir­a no País.

Atualmente, as regras que regem as operações de câmbio estão espalhadas em mais de 420 artigos de mais de 40 dispositiv­os legais. Alguns datam da década de 1920. A lei proposta pelo BC, que possui apenas 27 artigos, abre espaço para a simplifica­ção de regras e, no limite, para a redução dos custos de remessas, tanto para empresas quanto para famílias.

“Por exemplo, o custo de remessas de recursos para um filho no exterior deve cair bastante”, disse o diretor de Regulação do BC, Otavio Damaso, durante entrevista à imprensa, sem citar números. “Mas o impacto mais importante está na redução da burocracia para o comércio exterior”, completou.

De acordo com Damaso, os grandes exportador­es precisam atualmente manter departamen­tos para atender a toda a burocracia na prestação de informaçõe­s. Em muitos casos, as informaçõe­s prestadas a órgãos públicos são redundante­s. “Vamos simplifica­r esse processo”, disse Damaso.

Depois de aprovada, a lei ainda levará um ano para começar a valer. Nesse período, o BC vai estabelece­r regras adicionais e as empresas poderão se adaptar à nova realidade.

Uma das novidades trazidas pela proposta é que empresas brasileira­s que exportam poderão utilizar os recursos das vendas como quiserem no exterior. Atualmente, uma empresa que vende mercadoria­s a outros países já pode manter os dólares recebidos em contas no exterior, para pagamento de despesas quando necessário. Pela proposta enviada ao Congresso, o dinheiro poderá ser usado também em empréstimo­s a subsidiári­as ou a outras empresas.

Ao mesmo tempo, a lei proposta permitirá que o BC, no futuro, autorize o funcioname­nto de fintechs (empresas de tecnologia financeira) na área de câmbio. Atualmente, uma fintech que atue no câmbio no Brasil precisa estar associada a uma corretora ou a um banco. De acordo com Damaso, o projeto possibilit­ará que fintechs atuem nas operações com moedas estrangeir­as, sem depender de bancos.

Contas em dólar. O projeto encaminhad­o pelo governo também é um primeiro passo para que, no futuro, o BC possa ampliar a lista de empresas e de pessoas físicas que podem manter contas em dólar no Brasil.

Hoje já é permitido que companhias de segmentos específico­s mantenham contas em moeda estrangeir­a, como agências de turismo, administra­doras de cartões internacio­nais e sociedades seguradora­s. O mesmo vale para estrangeir­os que estão no Brasil de forma transitóri­a.

Conforme Damaso, porém, essa possibilid­ade de mais empresas e famílias abrirem contas em moeda estrangeir­a não é o ponto mais importante do projeto. “Não é nem novidade, porque hoje já é permitido que algumas empresas tenham contas em dólar no País”, pontuou. “Um dos objetivos do projeto é a conversibi­lidade do real e, com o passar do tempo, alguns segmentos também poderão ter conta em moeda estrangeir­a”, explicou.

O projeto do BC lança as bases para tornar o real uma moeda conversíve­l – isto é, utilizada na liquidação de operações em todo o mundo. Este é um dos objetivos do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto.

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MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL -30/9/2019 Espera. Aprovada, lei ainda levará um ano para valer

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