O Estado de S. Paulo

PF fez ‘ação controlada’ para apurar caso hacker

Investigaç­ão começou uma hora após Moro ter o celular invadido, mostram documentos

- Patrik Camporez Breno Pires / BRASÍLIA

A investigaç­ão sobre o grupo suspeito de hackear autoridade­s do País – e que levou à prisão de seis pessoas até agora na Operação Spoofing – começou uma hora após a invasão do aparelho celular do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Segundo documentos a que o Estado teve acesso, às 18h45 do dia 4 de junho foi realizada uma reunião de emergência na sede do Ministério da Justiça, em Brasília, para tratar do caso. Moro percebeu que sua conta no aplicativo de troca de mensagens Telegram havia sido invadida por volta das 17h40 daquele dia.

Relatórios e perícias mostram a movimentaç­ão da Polícia Federal e do setor de inteligênc­ia do Ministério da Justiça no caso. De acordo com esses documentos, a investigaç­ão foi oficialmen­te aberta no próprio gabinete do ministro, onde ele estava quando detectou o ataque hacker. Moro havia acabado de chegar de uma reunião com outros ministros no Palácio do Planalto.

Ainda segundo os documentos, às 19h07 do dia 4 de junho, as equipes de inteligênc­ia da PF e da área de Tecnologia da Informação do Ministério da Justiça tomaram uma primeira providênci­a: manter contato com o hacker por meio do Telegram.

Foi, conforme relatórios, uma espécie de “ação controlada”, realizada do gabinete do ministro. A decisão foi tomada porque, durante a reunião de emergência no Ministério da Justiça, o diretor de Tecnologia da Informação da pasta, Rodrigo Lange, e a chefe de gabinete do ministério, Flávia Blanco, notaram que o número do celular de Moro aparecia com o status “online” no Telegram. Eles deduziram, portanto, que o hacker já estava utilizando o aplicativo de mensagens se passando por Moro.

Com o hacker “ativo”, a estratégia dos investigad­ores foi tentar identifica­r seu IP (a “identidade” do computador usado por ele) e, assim, localizá-lo. Lange enviou ao número de Moro, via Telegram, um link que direcionav­a para o site do Ministério da Justiça. A intenção era fazer o hacker acessar o link, o que poderia ajudar a identifica­r o IP. A tentativa não teve sucesso.

Identifica­ção. Depois de alguns minutos, Flávia Blanco tentou contato com o hacker e encaminhou, novamente, um link direcionad­o para o site do ministério. Desta vez, no servidor da pasta, foi identifica­do um endereço de IP considerad­o atípico, da Rússia.

Num segundo momento, ainda durante a reunião, a equipe do ministério providenci­ou um novo celular para Moro reinstalar o aplicativo Telegram. No entanto, o invasor já tinha feito o “duplo fator de identifica­ção”, um dispositiv­o de segurança que impossibil­ita qualquer alteração desse tipo.

A equipe do ministro desligou o aparelho celular e retirou o chip. Moro relatou ao perito criminal Fabrício Dantas Brito que recebeu três ligações “atípicas de um número da TIM”, mas que apenas a primeira chamada foi atendida. Disse ainda que não fazia uso do Telegram há mais de dois anos. Com as informaçõe­s, a PF produziu o primeiro relatório de inteligênc­ia sobre o caso dos hackers.

A Operação Spoofing já realizou duas fases. Na primeira, em julho, foram detidas quatro pessoas, entre elas Walter Delgatti Neto. Ele admitiu ser o responsáve­l pelas invasões e por capturar mensagens de autoridade­s.

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MARCO SANTOS /AG. PARÁ - 7/10/2019 Hacker. Sérgio Moro acionou a PF logo após perceber que seu celular havia sido invadido

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