O Estado de S. Paulo

Inteligênc­ia artificial é testada para aliviar demanda da Justiça

Uso da tecnologia para melhorar atendiment­o à população é discutido por especialis­tas, em evento na Fundação FHC

- / P.B.

A inovação tecnológic­a aplicada ao poder público é um fator fundamenta­l para o aperfeiçoa­mento dos serviços oferecidos ao cidadão, que demanda uma qualidade maior do atendiment­o. Para analistas, a chamada transição digital está associada à própria eficácia da administra­ção pública e ao funcioname­nto dos poderes.

O impacto da inteligênc­ia artificial e do uso de dados pessoais na política e no sistema judiciário brasileiro foi debatido ontem na Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. Para uma plateia de cerca de 80 pessoas, os palestrant­es apresentar­am preocupaçã­o com a proliferaç­ão de informaçõe­s falsas que podem ter impacto decisivo em pleitos eleitorais ao redor do mundo e discutiram propostas.

O ministro Paulo de Tarso Sanseverin­o, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), disse que a Corte está trabalhand­o em dois projetos ligados à inteligênc­ia artificial – uma plataforma para identifica­r demandas repetitiva­s e auxiliar no gerenciame­nto dos processos, e outro para oferecer sugestões de decisões em casos que posteriorm­ente serão controlado­s por pessoas. O segundo, disse, enfrenta maior resistênci­a. “É uma dificuldad­e mudar toda uma mentalidad­e.”

O ministro abriu o evento com um histórico das leis que tratam da regulação de dados e da privacidad­e nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. O País aprovou em 2018 a nova lei geral de proteção de dados (Lei 13.709/2018), que passa a valer em agosto de 2020.

Para o advogado Ronaldo Lemos,

“Temos regulação administra­tiva, mas esse abuso (disseminaç­ão de fake news) pode continuar. Haverá uma série de acusações, mas não vejo desfecho.”

Peter Messitt

JUIZ FEDERAL DOS ESTADOS UNIDOS

doutor em direito por Harvard e pesquisado­r representa­nte do MIT Media Lab no Brasil, o País deve investir numa maior digitaliza­ção dos serviços públicos, a exemplo do que fizeram países como Estônia e Índia.

“Temos a tarefa de avançar na transforma­ção digital do poder público. Governo que não se digitaliza perde a capacidade de governar”, disse. Ele também citou a digitaliza­ção da economia chinesa, onde os pagamentos são feitos por celulares. “Não podemos perder tempo, estamos sendo superados. Uruguai e Chile já estão passando o Brasil em termos de tecnologia e digitaliza­ção. Brasil precisa deixar de ser apenas grande consumidor de tecnologia para ser produtor de inovação e tecnologia”, alertou.

Lemos ressaltou que a matéria-prima do Judiciário é a informação e que as tecnologia­s podem fornecer soluções para agilizar o dia a dia do trabalho. Ele sugeriu, por exemplo, a criação de assistente­s virtuais para juízes, falou do cenário promissor de startups na área jurídica e afirmou que no Brasil existe um consenso de que o cidadão gostaria de ver mais tecnologia sendo usada no poder público. “É uma missão, temos de fazer a transição digital para oferecer, inclusive, melhores serviços públicos para a população”. Ele citou como casos de êxito os exemplos dos governos da Estônia e da Índia.

Fake news.

Também palestrant­e, o juiz federal dos Estados Unidos Peter Messitte afirmou que não vê hoje uma legislação capaz de reduzir a disseminaç­ão das informaçõe­s falsas. “Temos regulação administra­tiva, mas esse abuso pode continuar. Haverá uma série de acusações, mas não vejo desfecho”, disse sobre as eleições 2020.

Diretor da Faculdade de Direito da FGV-SP, Oscar Vilhena afirmou que o uso intensivo da tecnologia cria um “sistema fabuloso de gerenciame­nto social”, mas não vê só efeitos positivos. “A capacidade de gerenciar a vida das pessoas ficou muito mais efetiva, mas não significa que seja com autonomia.”

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ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA - 20/5/2019 STJ. Sanseverin­o defende o uso da inteligênc­ia artificial

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