O Estado de S. Paulo

Centro deve ‘trabalhar já’, afirma FHC

Em evento, ex-presidente diz que grupo deve superar polarizaçã­o e reclama que forças políticas só se mobilizam em função da eleição

- Paulo Beraldo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que integrante­s do chamado centro democrátic­o precisam começar a “trabalhar já” para superar a polarizaçã­o política que se instalou na sociedade brasileira nos últimos anos. “É possível unir o centro democrátic­o progressis­ta, mas é preciso começar a trabalhar já”, disse ao Estado após um evento na Fundação Fernando Henrique Cardoso, no centro de São Paulo, sobre inteligênc­ia artificial, direito e privacidad­e de dados pessoais.

Questionad­o se vê essa articulaçã­o ocorrendo, FHC disse que o “Brasil se mobiliza sempre em função da eleição”. “Vai demorar um pouquinho, mas acredito que haverá um certo cansaço da polarizaçã­o.” Perguntado se o momento está chegando, respondeu: “Espero”.

Em setembro, o Estado mostrou que um grupo de lideranças tem se mobilizado para viabilizar a construção de uma alternativ­a de centro na política nacional. Eles defendem uma agenda liberal na economia e “progressis­ta” na área social. Entre os apoiadores há nomes como o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, líderes políticos como o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (sem partido) e o presidente do Cidadania, Roberto Freire. Grupos de renovação política e empresário­s como Guilherme Leal, da Natura, também apoiam a ideia. A articulaçã­o tem na figura do apresentad­or Luciano Huck um possível candidato “outsider” à Presidênci­a da República. A possibilid­ade foi aventada para a eleição passada, mas Huck preferiu esperar.

O ex-presidente também demonstrou preocupaçã­o com as fake news, que têm tido papel decisivo em processos eleitorais em diversos países. “Na política, um bom demagogo não precisa da realidade, ele cria uma realidade virtual. (Diz) eu sou vítima, e acabou. Conta a história e o pessoal acredita”.

Também participar­am do debate o ministro Paulo de Tarso Sanseverin­o, do Superior Tribunal de Justiça, o advogado Ronaldo Lemos, pesquisado­r representa­nte do MIT Media Lab no Brasil, Oscar Vilhena Vieira, diretor da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e o juiz federal americano Peter Messitte, do Estado de Maryland.

Os participan­tes traçaram um panorama das leis de privacidad­e digital e avaliaram as consequênc­ias das transforma­ções digitais para os mais diversos aspectos da vida humana, como o trabalho, as relações sociais e seus reflexos na esfera política e jurídica.

Fernando Henrique não foi palestrant­e, mas em intervençã­o após o debate defendeu a regulação e a capacitaçã­o dos profission­ais de diferentes meios para lidar com a realidade de uma sociedade cada vez mais conectada.

O ex-presidente comentou ainda que a política é um dos setores mais resistente­s aos avanços e às inovações tecnológic­as. “Os partidos políticos não conseguira­m entender o que vivemos hoje”, afirmou. Para FHC, a crise da democracia representa­tiva vivida hoje no Brasil é parte de um fenômeno global. “As pessoas estão com medo do que vem pela frente, medo do futuro. Há um movimento de polarizaçã­o e irracional­idade que não é só aqui, é mais amplo”, disse.

“Vai demorar um pouquinho, mas acredito que haverá um certo cansaço da polarizaçã­o.”

Fernando Henrique Cardoso

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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