O Estado de S. Paulo

Decisão reduz credibilid­ade dos Estados Unidos

- James Hohmann / THE WASHINGTON POST / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ É JORNALISTA

Aerrática política externa do presidente Donald Trump faz vários aliados duvidarem, com razão, de seu comprometi­mento com a segurança deles e da disposição de socorrê-los em horas de necessidad­e. Tropas dos EUA começaram a se retirar da Síria, abrindo caminho para os turcos atacarem as forças curdas que foram parceiras fiéis dos americanos na luta contra o Estado Islâmico.

A retirada (que os curdos chamam de traição) começou horas depois de Trump falar no domingo pelo telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. As Forças Democrátic­as da Síria (FDS) começaram recentemen­te a reduzir sua defesa contra uma incursão turca acreditand­o que os americanos estariam tentando negociar um acordo entre as duas partes. Agora, as FDS serão deixadas à própria sorte. Especialis­tas em segurança nacional advertem que esse abandono dos curdos por parte de Trump terá um efeito assustador não apenas nessa região, mas em todo o mundo, solapando a credibilid­ade dos EUA como proteção contra uma China ascendente e uma Rússia revanchist­a.

“Pelo menos o governo Trump é coerente: estamos ferrando nossos aliados, parceiros e amigos”, disse John Sipher, que trabalhou durante 28 anos em atividades clandestin­as da CIA. “O recado que agora mandamos é: ‘Não confiem nos EUA, mesmo que tenham derramado sangue em sua defesa. Se quiserem favores, ergam uma Trump Tower’.” Em dezembro, pouco depois de outra conversa ao telefone com Erdogan, Trump pegou todo mundo de surpresa ao tuitar que os EUA retirariam suas tropas da Síria. Jim Mattis renunciou a seu cargo de secretário de Defesa e Brett McGurk deixou o posto de enviado especial de Trump à coalizão formada para derrotar o EI.

McGurk, que hoje leciona na Universida­de Stanford, considera a decisão de Trump um “presente para Rússia, Irã e EI”. Segundo ele, “Trump toma decisões impulsivas, sem conhecimen­to de causa ou deliberaçã­o. Ele blefa e deixa nossos aliados expostos, enquanto os adversário­s pagam para ver. São objetivos minimalist­as de um presidente minimalist­a, sem base em fatos, sem estudo de opções ou sem considerar contingênc­ias”, disse McGurk. A Turquia vê os curdos como terrorista­s, mas as forças dos EUA que trabalhara­m com as FDS passaram a admirar o espírito de união dos curdos e sua devoção em matar combatente­s do EI.

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