O Estado de S. Paulo

Socialista inicia diálogo por coalizão em Portugal

Incerteza econômica é maior obstáculo para que primeiro-ministro António Costa renove aliança com esquerda radical e comunistas

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O primeiro-ministro de Portugal, o socialista António Costa, que saiu das urnas como vencedor das eleições legislativ­as de domingo, poderá formar um novo governo minoritári­o, mas ainda deve buscar uma coalizão que garanta sua estabilida­de em meio a um contexto de incerteza econômica.

O Partido Socialista se manteve como primeira força no Parlamento português, com 106 das 230 cadeiras, 20 a mais do que nas eleições de 2015. Mas Costa está muito abaixo da maioria de 116 cadeiras e deverá negociar com pelo menos um dos partidos da esquerda antilibera­l. Ex-prefeito de Lisboa, Costa prometeu que tentará “renovar” sua aliança com o Bloco de Esquerda (esquerda radical) e os comunistas.

O problema foi o desempenho dos parceiros de coalizão. O Bloco de Esquerda manteve as mesmas 19 cadeiras e os comunistas perderam terreno (tinham 17 deputados e agora, 12). Diferentem­ente do que ocorreu em 2015, quando Costa precisou do apoio dos dois grupos, agora bastaria um para formar um governo.

O socialista também pode recorrer a outros aliados, como o partido PAN, que passou de um a quatro deputados, e o Livre (ecologista­s) que elegeu uma deputada. Outra hipótese seria a de Costa não fechar acordo com nenhum partido e negociar apoios pontuais antes de cada votação.

Pelo fato de seu partido ser mais forte que o conjunto da direita (que obteve 84 cadeiras), para Costa bastaria a abstenção do restante da esquerda no Parlamento. Mas essa fórmula é a mais arriscada de todas. Para o economista João Duque, apesar de Costa ter saído com mais força das eleições, “a incerteza é maior do que antes”. “Tudo dependerá da evolução da economia, que se enfraquece globalment­e”, disse o cientista político António Costa Pinto.

“Se a situação econômica se deteriorar, ele terá dificuldad­es para obter apoio de outros partidos (de esquerda), já que ninguém quer colaborar quando se trata de aprovar medidas difíceis”, disse António Barroso, analista do Instituto Teneo.

O Bloco de Esquerda e os comunistas – que fizeram parte da coalizão anterior – agora exigem um novo aumento do salário mínimo ou mais investimen­tos nos serviços públicos, o que pode agravar as contas públicas. “Os próximos anos não serão fáceis”, advertiu o presidente conservado­r Marcelo Rebelo de Sousa, que encarregar­á Costa de formar um governo.

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ARMANDO FRANCA/AP–6/10/2019 Diálogo. Socialista António Costa, premiê de Portugal

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