Mais de cem toneladas de óleo foram recolhidas de praias
Mancha foi identificada em 132 pontos de 68 cidades; Bolsonaro disse ter suspeita sobre dono do poluente
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou ontem que mais de cem toneladas de borra de petróleo já foram recolhidas nas praias do Nordeste – a maior parte (58 toneladas) no Sergipe. Manchas de óleo, de origem desconhecida, foram identificadas em pelo menos 132 pontos do litoral desde o começo de setembro, em 68 cidades dos 9 Estados do Nordeste. O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o governo tem no radar da investigação um país que pode ser o dono do poluente, mas não revelou o suspeito.
“Em um vazamento como este, o que seria natural é que o comandante do navio informasse, porque acidentes acontecem”, disse Bolsonaro. Análises já mostraram, segundo ele, que o óleo desse tipo não é produzido no País. Bolsonaro se reuniu ontem com os ministros da Defesa, Fernando Azevedo, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para tratar do assunto. “Temos no radar um país que pode ser o da origem do petróleo e continuamos trabalhando da melhor maneira possível para dar uma satisfação à sociedade e colaborar na questão ambiental”, disse o presidente.
Segundo afirmou uma fonte ao Estado, o tipo de viscosidade do material que chegou ao litoral aponta para um produto similar a uma “borra” do refino, matéria mais densa e composta, em boa parte, de graxa, entre outros elementos. O presidente informou ainda que as manchas de óleo migram para o norte e para o sul da região da Paraíba. “Aproximadamente 140 navios fizeram esse trajeto por aquela região. Pode ser algo criminoso, um vazamento acidental, pode ser um navio que naufragou também”, disse.
No fim de semana, o governo de Sergipe decretou situação de emergência por causa dos danos ambientais. O último Estado a registrar a chegada da mancha foi a Bahia. Ainda segundo Bolsonaro, há impacto turístico na região – as manchas foram avistadas em destinos bastante procurados, como João Pessoa, a Praia do Futuro (Fortaleza), a Praia de Ponta Negra (Natal) e Maragogi (Alagoas).
Segundo Salles, as mais de cem toneladas foram recolhidas desde o dia 2 de setembro. A coleta, ainda de acordo com o ministro, foi feita por equipes de Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), municípios e pela Marinha.
Alertado pelo governador do Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD), sobre a possibilidade de o óleo chegar ao Rio São Francisco, responsável por 60% do abastecimento de água para o Estado, Salles ressaltou que é preciso fazer a contenção das borras de óleo o quanto antes para evitar a contaminação.
Na avaliação de David Zee, professor de Oceanografia da UERJ, trata-se do maior episódio de vazamento de petróleo de uma mesma origem no Brasil, em termos de extensão. “E isso que só estamos vendo a ponta do iceberg.” Para ele, deve levar de 10 a 20 anos para que todo o resíduo seja eliminado do mar.
“Parte do óleo mais pesado vem por baixo do nível do mar e está tocando a costa, depois a própria maré a leva de volta para o mar.” RicardoSalles
MINISTRO DO MEIO AMBIENTE