O Estado de S. Paulo

Mais de cem toneladas de óleo foram recolhidas de praias

Mancha foi identifica­da em 132 pontos de 68 cidades; Bolsonaro disse ter suspeita sobre dono do poluente

- / ANDRÉ BORGES, MARIANA HAUBERT, ANTONIO CARLOS GARCIA e JESSICA NAKAMURA, ESPECIAL PARA O ESTADO

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou ontem que mais de cem toneladas de borra de petróleo já foram recolhidas nas praias do Nordeste – a maior parte (58 toneladas) no Sergipe. Manchas de óleo, de origem desconheci­da, foram identifica­das em pelo menos 132 pontos do litoral desde o começo de setembro, em 68 cidades dos 9 Estados do Nordeste. O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o governo tem no radar da investigaç­ão um país que pode ser o dono do poluente, mas não revelou o suspeito.

“Em um vazamento como este, o que seria natural é que o comandante do navio informasse, porque acidentes acontecem”, disse Bolsonaro. Análises já mostraram, segundo ele, que o óleo desse tipo não é produzido no País. Bolsonaro se reuniu ontem com os ministros da Defesa, Fernando Azevedo, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para tratar do assunto. “Temos no radar um país que pode ser o da origem do petróleo e continuamo­s trabalhand­o da melhor maneira possível para dar uma satisfação à sociedade e colaborar na questão ambiental”, disse o presidente.

Segundo afirmou uma fonte ao Estado, o tipo de viscosidad­e do material que chegou ao litoral aponta para um produto similar a uma “borra” do refino, matéria mais densa e composta, em boa parte, de graxa, entre outros elementos. O presidente informou ainda que as manchas de óleo migram para o norte e para o sul da região da Paraíba. “Aproximada­mente 140 navios fizeram esse trajeto por aquela região. Pode ser algo criminoso, um vazamento acidental, pode ser um navio que naufragou também”, disse.

No fim de semana, o governo de Sergipe decretou situação de emergência por causa dos danos ambientais. O último Estado a registrar a chegada da mancha foi a Bahia. Ainda segundo Bolsonaro, há impacto turístico na região – as manchas foram avistadas em destinos bastante procurados, como João Pessoa, a Praia do Futuro (Fortaleza), a Praia de Ponta Negra (Natal) e Maragogi (Alagoas).

Segundo Salles, as mais de cem toneladas foram recolhidas desde o dia 2 de setembro. A coleta, ainda de acordo com o ministro, foi feita por equipes de Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio), municípios e pela Marinha.

Alertado pelo governador do Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD), sobre a possibilid­ade de o óleo chegar ao Rio São Francisco, responsáve­l por 60% do abastecime­nto de água para o Estado, Salles ressaltou que é preciso fazer a contenção das borras de óleo o quanto antes para evitar a contaminaç­ão.

Na avaliação de David Zee, professor de Oceanograf­ia da UERJ, trata-se do maior episódio de vazamento de petróleo de uma mesma origem no Brasil, em termos de extensão. “E isso que só estamos vendo a ponta do iceberg.” Para ele, deve levar de 10 a 20 anos para que todo o resíduo seja eliminado do mar.

“Parte do óleo mais pesado vem por baixo do nível do mar e está tocando a costa, depois a própria maré a leva de volta para o mar.” RicardoSal­les

MINISTRO DO MEIO AMBIENTE

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