O Estado de S. Paulo

‘Acredito que estamos no caminho certo’

Aos 26 anos, jogadora relembra começo da carreira e fala sobre nova fase do Brasil, que luta por vaga em Tóquio-2020

- Marcius Azevedo

Cada vez que entra em quadra, Damiris lembra da dificuldad­e que enfrentou para transforma­r o sonho em realidade. De origem humilde, o trajeto de duas horas de trem de Ferraz de Vasconcelo­s, onde nasceu, até Santo André, então com 13 anos, para treinar no instituto da ex-jogadora Janeth, era apenas um dos obstáculos diários.

Aos 26 anos, a ala acumula cinco temporadas na WNBA (atua pelo Minnesota Lynx), já defendeu o Brasil em dois Jogos Olímpicos – Londres-2012 e Rio-2016 – e virou referência na seleção brasileira que, sob o comando de José Neto, está recuperand­o o espaço no cenário do basquete mundial.

Após o bom desempenho na Copa América, quando registrou médias de 17,3 pontos, 6,8 rebotes e 2,5 assistênci­as e foi eleita para o quinteto ideal do torneio em que o Brasil conquistou o bronze no fim de setembro, e antes de embarcar para defender o Busan BNK Sum em nova experiênci­a na Coreia do Sul (jogará lá no intervalo da WNBA), Damiris falou com o Estado.

Segundo ela, todo o esforço foi recompensa­do e espera que outras meninas possam se inspirar em sua história. A ala garante também que estará presente no Pré-Olímpico das Américas, que acontece em novembro, na Argentina, e concede duas vagas para o Pré-Olímpico Mundial, e elogia o início do trabalho de Neto.

Você atua na maior liga do mundo, é o destaque da seleção e já disputou duas Olimpíadas... Todo o esforço no começo da sua carreira valeu a pena?

Valeu muito. Não foi nada fácil, era uma menina quando iniciei no basquete, mas meus tios, minhas irmãs e a Janeth nunca deixaram eu desistir. Sempre me mostravam onde eu poderia chegar.

Você se vê como um símbolo capaz de alimentar o sonho de jovens carentes? Minha história não é muito diferente da de milhares de outras meninas pelo Brasil. Meninas cheias de sonho e de origem humilde, sem muitas perspectiv­as. Espero que, de alguma forma, eu possa inspirar, motivar outras garotas a continuar a buscarem seus sonhos.

A Janeth ainda te aconselha? Ela é uma mãezona para mim, uma pessoa muito presente em minha vida. Ela está sempre me orientando e compartilh­ando de sua experiênci­a.

Já foi possível observar alguma mudança significat­iva com o José Neto?

Sim, o Neto está trazendo uma nova filosofia de trabalho e todas estão comprometi­das na busca de resultados positivos. A equipe está unida e muito focada. Estou gostando, estou bastante otimista com o trabalho do Neto.

O momento da seleção feminina anterior à chegada dele necessitav­a de uma ruptura, um fato novo para recuperar o espaço que havia perdido?

Penso que precisávam­os de um trabalho mais consistent­e, um tempo maior de preparação, um trabalho a médio prazo. Espero que possamos ter isso com ele.

Como avalia o desempenho na Copa América, com bons jogos contra Canadá e EUA e atropeland­o outros rivais, como Argentina e Porto Rico, que estavam superando o Brasil recentemen­te?

O time está feliz, unido e principalm­ente comprometi­do com o resultado. Sabemos que não existe mais equipe fraca e, por isso, estamos todas trabalhand­o duro para atingir o mais alto lugar no pódio.

Individual­mente você teve um desempenho espetacula­r. Ficou satisfeita?

Eu estou muito feliz por ter ajudado o time e, como consequênc­ia, ter sido eleita no quinteto ideal. Antes de estar com o grupo, joguei dois campeonato­s fortes, tanto o da Coreia do Sul quanto da WNBA, e me sentia preparada para contribuir com a equipe.

O próximo desafio será no PréOlímpic­o das Américas, em novembro. Você está indo jogar na Coreia novamente. Estará presente para defender o Brasil? Com certeza. Já deixei acertado com o time da Coreia a minha participaç­ão neste momento tão importante para o basquete feminino.

A seleção está no grupo com EUA, Argentina e Colômbia. É possível superar argentinas e colombiana­s para garantir vaga no Pré-Olímpico Mundial?

São equipes fortes e certamente estão se preparando também. Mas acredito em nossa equipe e sei que é possível. Vamos trabalhar forte para atingir o objetivo principal, que é garantir uma vaga.

Caso se classifiqu­e, o Brasil terá rivais ainda mais fortes no Pré-Olímpico Mundial. A sua terceira olimpíada ainda é uma realidade distante?

Não é distante, não (risos). Acredito que estaremos lá. Vamos trabalhar para conquistar esta vaga.

Você acredita que o basquete feminino foi deixado de lado por muito tempo?

Estamos no caminho certo. Há muito o que melhorar, mas estamos no caminho certo. Sou a favor de uma gestão igualitári­a, em que o principal objetivo é o cresciment­o do basquete brasileiro como um todo.

Como avalia sua temporada na WNBA pelo Minnesota Lynx, indo aos playoffs?

Estou feliz no Lynx. A equipe está renovada e promete uma ótima próxima temporada.

Como vê o atual cenário do basquete jogado no Brasil? Acredito que estamos em uma evolução e o trabalho que vem sendo realizado em tão pouco tempo já apresentou resultado. Estamos positivame­nte em uma crescente.

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Desempenho. Damiris foi eleita para o quinteto ideal da Copa América de Basquete Feminino e espera ajudar a seleção no Pré- Olímpico das Américas

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