O Estado de S. Paulo

Para economista­s, mudar ‘RH do Estado’ é essencial

Avaliação é a de que o sistema atual tem de ser alterado para a qualidade dos serviços públicos melhorar

- / J.F.

Na agenda do governo, o novo pacto federativo e a reforma tributária parecem receber uma atenção especial. Mas, na visão de economista­s ouvidos pelo Estado, a reforma administra­tiva é que deve ser privilegia­da no momento.

“Depois da Previdênci­a, a reforma administra­tiva é a mais importante”, diz a economista Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, empresa de consultori­a americana, e coautora do estudo Panorama Brasil: Reforma do RH do Estado, realizado em parceria com o também economista Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimen­tos e ex-presidente do Banco Central, e Ari Sundfeld, advogado especializ­ado em Direito público e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Essa é uma discussão que precisa ser feita para ontem”, afirma o economista Luís Eduardo Assis, presidente da Fator Seguros e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central. “Nenhuma empresa privada conseguiri­a ter o mínimo de eficiência se tivesse de cumprir as regras da gestão de pessoas do governo federal: os salários iniciais são muito altos, quase não existe chance de adotar a meritocrac­ia e é praticamen­te impossível penalizar as pessoas que não têm bom desempenho.”

De acordo com Ana Carla, a maior parte da população depende do Estado para ter chance de melhorar de vida, mas a “máquina” não entrega serviços básicos de saúde, educação e segurança de boa qualidade. “A gente gasta cada vez mais, mas os serviços públicos não melhoram”, diz. “É preciso reinventar essa máquina, principalm­ente por uma questão de justiça social, mas também por questões de produtivid­ade e fiscais, porque o gasto de pessoal é o segundo maior do governo, logo após a Previdênci­a.”

Na avaliação de Assis, que chama a proposta de “a reforma esquecida”, não tem sentido mudar a Previdênci­a, que afeta toda a população,

Falta de articulaçã­o do governo e resistênci­a dos servidores devem dificultar a tramitação da proposta no Congresso, apesar da urgência apontada pelos analistas

e comprimir os investimen­tos em infraestru­tura, para cumprir a lei do teto de gastos, sem discutir o problema da folha de pagamento do funcionali­smo. “Como 93% das despesas são obrigatóri­as, acaba sobrando para o investimen­to, que é aquilo que pode ser comprimido, mas é o que deveria ser fomentado.”

Ana Carla discorda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para quem os servidores atuais devem ser poupados. “Não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos”, afirma. “É positivo construir regras mais racionais daqui para a frente, mas não pode deixar de enfrentar uma questão que está presente e esperar 40 anos até os atuais servidores se aposentare­m, para que o efeito do novo regime se faça sentir plenamente.”

Ela teme a “contaminaç­ão” do novo sistema e diz, com base em estudo feito com o advogado Jairo Saddi, que o Judiciário é “muito suscetível” às causas do funcionali­smo. “O Estado perde todas as causas referentes aos servidores nos tribunais superiores”, afirma.

Assis preocupa-se com a resistênci­a do funcionali­smo, num quadro em que o governo tem “enormes dificuldad­es” de articulaçã­o no Congresso. “A gente não pode subestimar os obstáculos”, diz. “O funcionali­smo é uma categoria bem articulada e certamente vai resistir às mudanças, mas essa é uma questão que tem de ser enfrentada rapidament­e.”

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