O Estado de S. Paulo

‘Odebrecht não pode continuar sendo punida’

Presidente do grupo, Luciano Guidolin, enviou carta ao presidente do BNDES sobre entrevista concedida ao ‘Estado’

- Renée Pereira

Uma semana depois de o presidente do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, ter dito ao Estado que o banco poderia perder até R$ 14,6 bilhões com a Odebrecht, o presidente do grupo baiano, Luciano Guidolin, afirmou que a empresa não pode continuar sendo indefinida­mente punida pelos erros do passado, mesmo após homologaçã­o do acordo de leniência há quase três anos. Para ele, isso pode passar o recado “inequívoco de que o processo de leniência no Brasil não é a chance de recomeço, mas sim uma sentença de morte”.

A declaração consta de uma carta enviada ao presidente do BNDES, na sexta-feira, à qual o Estado teve acesso. Em seis páginas, Guidolin comenta – num tom apaziguado­r – os principais pontos da entrevista concedida por Montezano, relembra as relações com o banco de desenvolvi­mento, os investimen­tos feitos pelo grupo e os juros pagos pelos empréstimo­s.

“Se os desembolso­s de financiame­ntos diretos ou em fomento à exportação de serviços ultrapassa­ram R$ 50 bilhões nas décadas de 2000 e 2010, também foram superiores à dezena de bilhões de reais os pagamentos de juros e amortizaçõ­es, durante o mesmo período”, diz Guidolin, na correspond­ência.

Para o executivo da Odebrecht, ao avaliar a dificuldad­e atual de repagar esses financiame­ntos, seria um erro desconside­rar os efeitos negativos da profunda crise econômica brasileira dos últimos anos.

Desde junho, o grupo está em recuperaçã­o judicial, após alguns credores ameaçarem executar suas dívidas, de quase R$ 100 bilhões (quando incluídos os empréstimo­s intercompa­nhias). Neste momento, a empresa tenta negociar com os credores um plano de recuperaçã­o baseado especialme­nte na venda da petroquími­ca Braskem. Desde que virou pivô da Lava Jato, ao lado da Petrobrás, o grupo já vendeu inúmeros ativos e tem sofrido para conseguir novas obras, num cenário de escassez de investimen­tos.

Guidolin diz que a empresa cometeu vários erros na relação público-privada. Mas que a companhia implemento­u um profundo processo de transforma­ção, baseado em uma nova governança e em uma atuação ética. “Severas punições financeira­s foram imputadas à Odebrecht, visando a reparação da sociedade, sendo importante destacar que o pagamento dessas penalidade­s só será possível se nos for dada a possibilid­ade de continuar trabalhand­o”, diz ele. Odebrecht e BNDES não se manifestar­am.

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