Medellín Novos ares
Em busca de deixar para trás a violência do passado, cidade exibe arquitetura renovada e museus convidativos
Mal cheguei a Medellín, deixei a bagagem no quarto e fui conhecer o bairro El Poblado, uma versão de Pinheiros ou Palermo colombianas, para ficar nos exemplos paulistano e portenho.
El Poblado é um grande distrito de classe média, com importantes avenidas, lojas, supermercados, escritórios, metrô (estação Poblado). A comparação também tem outro motivo: o núcleo jovem/descolado/hipster, que em vez de circular pelo eixo da Rua dos Pinheiros ou de Palermo Soho, se espalha pela Parque Lleras, abrangendo algumas quadras com grafites, varais de luzinhas e paredes instagramáveis.
O movimento é frequente durante todo o dia, mas as ruas são tomadas de gringos e jovens locais a partir das 18 horas e se estende noite adentro. Essa atmosfera faz parte dessa nova Medellín, que busca recriar aquela que já foi a cidade mais violenta do mundo. A cidade é repleta de grandes obras que parecem ter saído da prancheta de algum arquiteto renomado.
São muitos projetos recentes impressionantes, mas raras as construções antigas. Entre as exceções está o Museo de Arte Moderno (elmamm.or), cuja sede une uma antiga usina siderúrgica da década de 1938 a uma edificação inaugurada em 2015, com estéticas completamente distintas. Além da arquitetura em si, as exposições do espaço trazem artistas latinos e de fora do continente. Ingresso a R$ 15 – grátis na última sexta-feira do mês.
Boteros por toda parte. Minha parada seguinte já foi na região central, mas não em um ponto turístico. A Praça San Antonio não chama a atenção de viajantes, mas é simbólica ao se pensar nas mudanças da Colômbia. Ali, em 1995, um atentado a bomba deixou 29 mortos e destruiu parcialmente a escultura El Pájaro, de Fernando Botero. Tempos depois, o artista, nascido em Medellín, doou uma nova versão da peça, que foi colocada do lado da antiga, como uma forma de mostrar o passado e o futuro do País.
Mais alguns minutos de caminhada e voltei a encontrar a obra de Botero, dessa vez na praça que leva o nome do artista e na qual estão distribuídas mais de 20 peças de bronze de alguns metros de altura, com as proporções volumosas típicas do autor.
A praça fica entre outras duas atrações da região: o Palácio da Cultura Rafael Uribe Uribe e o Museu de Antioquia. O primeiro é um grande prédio quase centenário de estilo gótico e chamativo pela combinação de duas cores. Com entrada gratuita, ele dá acesso a mirantes para a região central, dos quais se destaca um junto às cúpulas e com vista para um grafite na empena de um prédio feito a partir de uma pintura de… Botero. Fique de olho na programação do Palácio, que costuma receber exposições, oficinas e mostras de cinema.
Já no Museu de Antioquia assisti a um concerto gratuito com a orquestra sinfônica local no fim da tarde. Antes, fiz a visita guiada (sempre às 14h), que percorre uma parte das salas de exposição. Ao fim do passeio, o visitante pode explorar o restante do local, tudo pelo valor do ingresso (cerca de R$ 22).
O museu leva o nome de Antioquia, departamento em que está Medellín, mas tem ares de “museu Botero” pelas dezenas de obras que o autor doou para a instituição e que ocupam uma sala inteira. O acervo traz, ainda, obras de arte contemporânea e dos séculos passados, além de artefatos arqueológicos e artesanais colombianos.
Jardim Botânico e arredores.
No dia seguinte, parti para o Jardim Botânico. Com entrada franca, o espaço é uma espécie de parque de lazer e atividades esportivas. A parte mais esperada para mim era o orquidário, cujo projeto arquitetônico parece flutuar, lembrando grandes balões quadrados ou uma colmeia. Enquanto tentava uma selfie, dezenas de pessoas faziam ioga.
Ali perto estão outras das grandes atrações de Medellín: o Parque Explora, um museu natural interativo e tecnológico que abriga também um aquário. A entrada custa cerca de R$ 35, mas chega a R$ 50 se combinada com o planetário, do outro lado da rua, onde também fica o Parque de Los Deseos.
Parti, então, para o Museo Casa de la Memoria, outro dos projetos arquitetônicos recentes, voltado à memória dos que morreram ou se opuseram aos conflitos armados na região. O espaço reúne uma série de tecnologias interativas para acessar o acervo de depoimentos, notícias e registros, dando rosto e voz a quem testemunhou centenas de mortes. Para a experiência ser mais completa (e tocante), recomendo baixar o aplicativo, que, assim como o ingresso, é gratuito.
Encerrei a tarde na Plaza de los Pies Descalzos, onde os visitantes são convidados a andar sem calçados. Na prática, a maioria dos adeptos são crianças, mas o espaço é tranquilo e próximo a cafés e restaurantes.