O Estado de S. Paulo

Uma vaga longe de casa

Estudantes apostam na graduação fora do Brasil para ter acesso a ensino de qualidade, às vezes pagando menos. Mas atenção: é recomendad­o pesquisar para decidir se essa escolha tem mesmo vantagem

- / LUCIANA ALVAREZ, ESPECIAL PARA O ESTADO

Vagas menos concorrida­s, modelos acadêmicos mais flexíveis e a possibilid­ade de conhecer outras culturas levam jovens brasileiro­s a sair do País para fazer faculdade. Em alguns casos, até mesmo os custos – da mensalidad­e e de vida – são atrativos no exterior. Mas, antes de fazer as malas, é preciso pesquisar bastante para encontrar uma opção que seja realmente vantajosa.

Portugal tem sido um dos principais destinos dos universitá­rios brasileiro­s por causa do idioma, pelo preço relativame­nte baixo dos cursos (entre 3 mil e 7 mil euros ao ano) e pela facilidade do processo de admissão. Em 2014, um acordo permitiu que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) fosse adotado como critério de seleção e, depois disso, cerca de 40 universida­des e outros institutos superiores já aceitam a nota da prova. No primeiro semestre deste ano, dados oficiais mostram que 13.295 brasileiro­s estavam inscritos em cursos superiores do país. Além desses, havia outros 3.282 estudantes com nacionalid­ade portuguesa que concluíram o ensino médio no estrangeir­o – muitos deles brasileiro­s com dupla cidadania.

Depois de vários anos sonhando em fazer algum intercâmbi­o para ter uma experiênci­a com outras culturas, Giovanna Sá, de 19 anos, conseguiu realizar o desejo: há um ano ela estuda Artes Visuais no Instituto Universitá­rio de Maia (Ismai), no norte de Portugal. “Pensei em fazer cinema na USP (Universida­de de São

Paulo), mas não conseguiri­a passar no vestibular. A mensalidad­e de uma faculdade privada em São Paulo sairia mais do que o dobro do que eu pago aqui. E o custo de vida em São Paulo também seria maior do que em Maia”, conta ela, que é de Santos, no litoral paulista. “Por tudo isso, quando acabei o colégio, percebi que tinha chegado a hora de sair.”

Pela Europa. A mudança da casa dos pais para o outro lado do Atlântico não tem sido sempre fácil, mas Giovanna diz que foi a escolha certa. “Falo muito com minha mãe para matar a saudade e sempre lembro a mim mesma do porquê vim, do aprendizad­o que viver em outra cultura proporcion­a”, afirma a estudante. Giovanna vai aproveitar o programa Erasmus, que permite intercâmbi­o entre instituiçõ­es de ensino da Europa com o aproveitam­ento de todos os créditos, para fazer um semestre na Croácia.

Para o diretor-geral da unidade Pueri Domus Verbo Divino, Deivis Pothin, a vontade de sair do Brasil é natural porque o adolescent­e de hoje é “globalizad­o”. “Ele já é um cidadão global, conectado com o mundo, conhece youtuber de Cingapura, discute sobre o que está acontecend­o em Barcelona”, diz. Pothin também defende que as boas escolas do País preparam para a faculdade tão bem quanto as internacio­nais. “Nossos alunos podem competir de igual para igual com alunos de qualquer outro país do mundo.”

Embora estudar no exterior tenha vantagens, não é a melhor opção para todo mundo. “Tem de pensar se realmente vale a pena, por exemplo, fazer Publicidad­e em Portugal, sendo que o Brasil é um país premiado na

área, com ótimas faculdades. Em carreiras que exigem validação de diploma, é ainda mais complicado. Quem faz Medicina, para atuar no Brasil, precisa fazer o Revalida (exame para validar o diploma), o que nem de longe é simples”, alerta Daniel Perry, coordenado­r do cursinho pré-vestibular Anglo. “Mas se o projeto é mesmo mudar de país, aí vale a pena em qualquer curso.”

Ao lado. Ainda que exista o desafio da validação do diploma, muito brasileiro­s decidem cursar Medicina na Argentina por não haver vestibular, nem mensalidad­e nas instituiçõ­es públicas, como a Universida­de de Buenos Aires. As únicas exigências são o certificad­o de ensino médio e uma prova de espanhol. O governo argentino não divulga o número de brasileiro­s matriculad­os nas faculdades locais, mas quem trabalha com o setor garante que o número vem crescendo.

Thaís Fuertes, da assessoria Universitá­rios Buenos Aires, conta que a saudade é a maior dificuldad­e dos jovens. “Quase sempre é a primeira vez em que estão saindo da casa dos pais e já vêm para uma cultura diferente, um clima mais frio. Quando têm a primeira reprovação, alguns desanimam, acham que não está valendo tanto esforço”, relata Thaís. Apesar dos desafios, ela garante que a maioria conclui o curso e, em geral, fica pela Argentina ou se muda para a Espanha, que aceita o diploma argentino.

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MARIA CLARA GIRÃO Sonho. Giovanna estuda em Portugal

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