O Estado de S. Paulo

PSA investe para produzir nova linha global no País.

Em crise no Brasil há pelo menos 8 anos, grupo francês PSA investe R$ 220 milhões em nova plataforma produtiva na fábrica brasileira

- Cleide Silva

Na busca que já dura mais de oito anos pela recuperaçã­o de mercado e de rentabilid­ade no Brasil, o grupo PSA Peugeot Citroën inicia em novembro novo ciclo de investimen­tos na fábrica de Porto Real (RJ) para produzir uma linha de veículos globais em uma inédita plataforma (base de produção) recém-lançada na Europa.

O grupo francês anunciou ontem investimen­to de R$ 220 milhões na plataforma internacio­nalmente conhecida como CMP, que foi introduzid­a recentemen­te na fábrica da Espanha com a produção do compacto Peugeot 208.

No Brasil, o primeiro veículo dessa base começará a ser produzido em 2021. A PSA ainda não revela os modelos a serem feitos no Rio, mas as apostas do mercado vão para o novo utilitário-esportivo Peugeot 2008, de pequeno porte, e, na sequência, o SUV subcompact­o 1008 (nome ainda provisório).

Com essa ofensiva, a PSA espera que as duas marcas finalmente alcancem uma participaç­ão de 5% no mercado brasileiro em 2023. Hoje, essa fatia é de 2% no segmento de automóveis e comercias leves.

Além do Brasil, a nova base produtiva está sendo instalada na filial do grupo na Argentina, onde também deverá ser produzido o novo 208, segundo fontes do mercado.

Fabricio Biondo, vice-presidente de Comunicaçã­o, Relações Externas e Digital da PSA na América Latina, informa que “a nova plataforma é totalmente modular, o que permite a produção de vários produtos dos segmentos compacto e médio, assim como sedãs, utilitário­s-esportivos e até veículos elétricos”.

O executivo diz que os R$ 220 milhões envolvem melhorias a serem feitas em várias áreas produtivas, incluindo a instalação de cerca de 30 novos robôs em adição aos 245 já existentes. “Cada novo produto a ser produzido receberá investimen­to específico”, ressalta. “Essa é a plataforma mais moderna e uma das

Patrice Lucas

mais eficientes do grupo”, diz Biondo.

Pelo conceito adotado, é possível reaproveit­ar vários equipament­os em uso na plataforma atual, a BVH1, somada às transforma­ções digitais que estão sendo adotadas e à atualizaçã­o da robotizaçã­o. “Há oito anos, o investimen­to necessário para esse tipo de plataforma seria três vezes maior.”

Fábrica parada. Para preparar as instalaçõe­s e receber a nova plataforma, que vai operar na mesma linha produtiva da atual – onde são feitos os modelos Citroën C3, C4 Cactos e Peugeot 208 –, a produção será totalmente paralisada em novembro e dezembro e os cerca de 1,6 mil trabalhado­res entrarão em férias coletivas e folgas.

Atualmente, eles trabalham com jornada e salários reduzidos em 25% principalm­ente em razão da queda das exportaçõe­s para a Argentina, que antes da crise econômica ficava com quase metade da produção da fábrica. O corte foi uma solução negociada com os trabalhado­res para evitar demissões.

A fábrica tem capacidade para produzir 150 mil veículos anualmente em dois turnos e, neste ano, deve produzir entre 55 mil e 60 mil unidades. Em 2018, foram 80 mil. “Com a queda das exportaçõe­s para a Argentina, vamos produzir cerca de 20% a menos do que prevíamos”, informa Biondo.

No mercado interno, a Peugeot e a Citroën venderam de janeiro a setembro 36 mil veículos, 11,8% a mais que em igual período do ano passado. O mercado total de automóveis e comerciais leves cresceu 8,9% no período, para 1,64 milhão de unidades. Esse volume de vendas coloca o grupo na 11.ª posição no ranking nacional do mercado brasileiro. “O C4 Cactus tem sido nossa redenção”, afirma o executivo. Só as vendas da Citroën cresceram 42%, puxadas pelo SUV lançado há um ano.

Em nota, o presidente da PSA no Brasil e América Latina, Patrice Lucas, informa que a intenção do grupo “é de lançar um novo produto por ano, por marca,

“Esses novos investimen­tos confirmam nosso compromiss­o com o cliente latino-americano que, em um futuro próximo, terá à sua disposição diversos modelos de produtos globais feitos localmente.”

PRESIDENTE DA PSA NO BRASIL E

AMÉRICA LATINA

na região, em linha com nosso plano estratégic­o global”. “Esses novos investimen­tos confirmam o nosso compromiss­o com o cliente latino-americano que, em um futuro próximo, terá à sua disposição diversos outros modelos de produtos globais produzidos localmente pela PSA”, afirma Lucas.

Lucrativid­ade. No Brasil, a PSA Peugeot Citroën opera com prejuízos desde 2012. No conjunto da América Latina, contudo, o resultado financeiro do ano passado foi de equilíbrio, após quatro anos seguidos de lucrativid­ade. São os ganhos da região que vão bancar os investimen­tos no País, diz Biondo.

Globalment­e, a PSA, segunda maior fabricante de carros na Europa, atrás da Volkswagen, passa por momento positivo, com vendas de 3,88 milhões de veículos em 2018 (6,8% a mais que no ano anterior) e aumento de 40% no lucro, que somou ¤ 3,3 bilhões.

Boa parte desse desempenho foi creditada aos resultados da Opel, a operação europeia da General Motors adquirida em meados de 2017 e que teve lucro de ¤ 859 milhões no primeiro ano completo nas mãos da companhia francesa. Quando pertencia à GM, a então subsidiári­a teve prejuízos por 20 anos consecutiv­os.

A PSA não descarta produzir no Brasil modelos com a marca Opel. Na Europa, a nova plataforma em que é feito o 208 que começa a ser vendido no continente nesta semana – inicialmen­te em Portugal – também fará o novo Opel Corsa, por exemplo.

 ?? PSA ?? Objetivo. Com novo investimen­to, empresa quer pular de 2% para 5% do setor no Brasil
PSA Objetivo. Com novo investimen­to, empresa quer pular de 2% para 5% do setor no Brasil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil