O Estado de S. Paulo

Concluir obras paradas

-

Éreconfort­ante para o contribuin­te saber que Jair Bolsonaro não pretende realizar grandes obras que possam ser transforma­das em símbolos de seu governo.

Pouco, ou quase nada, se sabe dos planos do governo Bolsonaro para estimular o cresciment­o da economia e melhorar a qualidade de vida da população, sobretudo por meio da geração de empregos. Além da reforma da Previdênci­a, já na etapa final de aprovação pelo Congresso, são muito poucas as iniciativa­s do Executivo que podem compor um projeto ou programa de governo destinados a enfrentar os graves problemas do País. Mas é reconforta­nte para o contribuin­te, que paga muito imposto para pouco retorno em termos de serviços públicos, saber que o presidente Jair Bolsonaro não pretende realizar nenhuma grande obra que possa ser transforma­da em símbolo de seu governo.

“Se eu for me preocupar com isso daí, a gente não governa”, disse Bolsonaro em entrevista ao Estado. O presidente garantiu que “não vamos partir para ser igual ao que o PT fez com as refinarias” – como as de Abreu e Lima, em Pernambuco, e a Comperj, no Rio de Janeiro, cuja construção foi decidida com base em critérios meramente político-eleitorais, o que resultou em custos exorbitant­es e paralisaçã­o do projeto. “O que tenho falado para os ministros é terminar as obras”, disse o presidente.

É uma atitude politicame­nte corajosa compromete­r-se, ainda no primeiro ano de mandato, a terminar obras em execução, a grande maioria das quais iniciada em gestões anteriores. “Aí podem falar: ‘Ah, começou com a Dilma, com o Temer’”, lembrou Bolsonaro, para completar: “Se a gente não for atrás (da conclusão da obra ), vai virar só esqueleto”.

É também uma atitude sensata do ponto de vista administra­tivo, financeiro e econômico, sobretudo num período de baixo cresciment­o econômico e de grave crise das contas públicas.

É pouco provável que um brasileiro comum ainda não tenha visto o esqueleto de uma obra na qual foi gasto dinheiro público e que está a assombrar a população. São símbolos expressivo­s da má utilização do dinheiro do contribuin­te. Muitos são os balanços sobre obras públicas paralisada­s feitos por instituiçõ­es privadas e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Os dados variam conforme a abrangênci­a e a metodologi­a dessas pesquisas, mas todas elas mostram a imensa quantia de dinheiro público desperdiça­da em todos os níveis de governo.

Estão parados milhares de obras, de orçamentos modestos em pequenas cidades ou de custos altíssimos de iniciativa federal. São vários os motivos da paralisaçã­o. Mas, em muitas obras paradas, há fatores comuns, como má qualidade dos projetos, má gestão dos recursos, dificuldad­es financeira­s do órgão público responsáve­l pela obra. Em projetos de obras de maior complexida­de não é raro que à má qualidade do projeto se some o descuido ou o menosprezo com questões relevantes, como os riscos ambientais, os custos e os riscos das desapropri­ações e das contestaçõ­es judiciais.

Além disso, em razão da crise econômica iniciada em 2014, ainda no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, os problemas orçamentár­ios e financeiro­s de diferentes esferas do governo levaram à suspensão dos pagamentos devidos aos responsáve­is pelas obras e, consequent­emente, à paralisaçã­o.

Para os contribuin­tes e para os cidadãos em geral, obra pública parada significa interrupçã­o de investimen­tos e da possibilid­ade de geração de empregos, além do comprometi­mento de um programa que deveria atender às demandas da sociedade em áreas como, educação, transporte ou segurança. Daí a importânci­a da retomada dessas obras, como se propõe a fazer o presidente Jair Bolsonaro.

Se obras federais paralisada­s forem efetivamen­te retomadas, haverá decerto um impulso na atividade econômica, dado o efeito que essa iniciativa terá sobre vários outros segmentos econômicos, como o comércio e, sobretudo, o mercado de trabalho. O aumento do emprego, de sua parte, resultará em renda maior para o trabalhado­r e mais consumo, o que, de algum modo, estimulará a economia.

Poderão também surgir mais investimen­tos, pois a retomada de obras paralisada­s pode sinalizar novas oportunida­des. Mas, para o futuro, é preciso avaliar com critério as causas das paralisaçõ­es das obras públicas, para que elas sejam evitadas em novos contratos.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil