O Estado de S. Paulo

Procurador­ia avalia ‘saída honrosa’ para Dallagnol

Promovido ao cargo de procurador regional, ele deixaria a força-tarefa da Lava Jato

- Breno Pires / BRASÍLIA

Procurador­es discutem nos bastidores o que poderia ser uma “saída honrosa” para Deltan Dallagnol da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. A ideia seria promovê-lo ao cargo de procurador regional, para atuar na segunda instância do Ministério Público Federal, o que o afastaria da operação. Para isso acontecer, porém, Dallagnol precisa se candidatar à vaga.

Dallagnol é o titular da Lava Jato desde o início, há cinco anos, período em que a operação levou dezenas de empresário­s e políticos à prisão. Nos últimos meses, porém, teve a conduta contestada após a divulgação de conversas privadas no Telegram com integrante­s de sua equipe e com o então juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro. Eles não reconhecem a autenticid­ade das mensagens. As conversas reforçaram representa­ções contra Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público, que fiscaliza a atuação de procurador­es.

A decisão pela promoção cabe ao Conselho Superior do Ministério Público Federal, formado por dez subprocura­dores e presidido pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Há, no momento, dez vagas abertas para procurador regional – cinco por antiguidad­e e outras cinco por mereciment­o – e mais uma prevista até o fim do mês. Dallagnol precisaria se candidatar a uma vaga por mérito.

Segundo o Estado apurou, aliados de Dallagnol se dividem quanto à possibilid­ade de o procurador concorrer. Segundo Januário Paludo, um dos mais experiente­s da equipe da força-tarefa, ainda não é hora de o procurador sair. “Essa é uma questão pessoal dele. A operação ainda está em curso. Temos trabalho para pelo menos dois anos”, disse Paludo ao Estado.

Por outro lado, defensores da promoção a Dallagnol argumentam que isso seria uma forma de reconhecim­ento pelo bom trabalho na Lava Jato. Ao mesmo tempo, poderia reduzir o desgaste na imagem da operação, sobretudo pela exposição pessoal do procurador após as divulgaçõe­s das mensagens.

O procurador evita falar do assunto. Questionad­o pela reportagem,

Dallagnol não comentou. Mesmo seus interlocut­ores afirmam não saber qual será a decisão. Quem acenou com a possibilid­ade publicamen­te foi

Aras. “Vai haver a promoção de 11 procurador­es regionais da República nas próximas sessões. Ele (Dallagnol) pode ser promovido, até porque é um direito dele. Nem por isso deixará de responder (a representa­ções no Conselho Nacional do MP)”, disse o procurador-geral da República em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada na segunda-feira passada.

Críticas. Diferentem­ente de sua antecessor­a no cargo, Raquel Dodge, Aras defende a análise das mensagens atribuídas a procurador­es e divulgadas pelo site The Intercept Brasil e outros veículos. Em sabatina no Senado, no mês passado, o procurador-geral fez críticas ao que considera “excessos” da Lava Jato e, especifica­mente, à conduta de Dallagnol. “Talvez tenha faltado nessa Lava Jato a cabeça branca, para dizer que tem certas coisas que pode, mas tem muitas outras coisas que nós não podemos”, disse Aras.

A próxima sessão do Conselho Superior do MPF está marcada para 5 de novembro, e o tema das promoções deve entrar na pauta.

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SUAMY BEYDOUN/AGIF–1/8/2018 Desgaste. Dallagnol foi alvo de representa­ções no Conselho Nacional do Ministério Público após vazamento de conversas

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