Ex-presidente da Colômbia será julgado por fraude e suborno
Álvaro Uribe é suspeito de ter pressionado testemunhas que poderiam vinculá-lo a grupos paramilitares
A Corte Suprema da Colômbia decidiu dar prosseguimento às investigações de fraude e suborno contra o ex-presidente Álvaro Uribe, que governou o país entre 2002 e 2010. Uribe é suspeito de ter pressionado testemunhas que poderiam vinculálo a paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). O grupo armado de extrema direita fez parte do conflito armado na Colômbia, entre a década de 90 e os anos 2000, e está envolvido em narcotráfico e violação de direitos humanos.
Uribe depôs por sete horas na terça-feira diante de um juiz em Bogotá. “Defendi minha lealdade à verdade”, disse o ex-senador ontem em um pequeno ato para seus partidários. O ex-presidente nega as acusações de vínculos com os paramilitares, que passaram a disputar com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e outros grupos menores o controle do narcotráfico no país após o esfacelamento dos cartéis de Medellín e de Cali.
Analistas consideram o caso um importante teste para o Judiciário colombiano, que há anos tem sido criticado por não punir políticos e militares acusados de corrupção. “É crucial que a Justiça trate esse caso com rigor e imparcialidade”, disse Adam Isacson, especialista do Washington Office on Latin America (Wola).
Uribe ainda é um dos principais líderes políticos da Colômbia. Em 2016, ele liderou a oposição ao acordo de paz com as Farc, que foi rejeitado em referendo. Dois anos depois, ele apoiou o atual presidente, Iván Duque, na campanha que o levou ao Palácio de Nariño.
As suspeitas de irregularidades contra o ex-presidente, no entanto, não são novas. Nos anos 80, depois de ter sido prefeito de Medellín, Uribe foi acusado de conceder licenças de aviação a narcotraficantes quando comandava a agência de aviação civil da Colômbia.
Segundo documentos do Departamento de Estado americano, diplomatas americanos receberam, nos anos 90, relatos de que Uribe era próximo de narcotraficantes.
O ex-presidente, no entanto, rejeita todas as acusações. No governo, ele foi um importante aliado dos EUA na implementação do Plano Colômbia e no combate às Farc. Sob seu comando, os principais líderes da guerrilha foram mortos, como foi o caso de Raúl Reyes, alvo de um ataque na fronteira com o Equador, em 2008.
Uribe também extraditou diversos suspeitos de narcotráfico para os EUA. “Nunca pensei que meu amor pela Colômbia me criaria essas dificuldades jurídicas”, acrescentou o ex-presidente ontem, após depor na Justiça.
Denúncia. Uribe é suspeito de ter subornado o ex-paramilitar Juan Guillermo Monsalve para que ele mudasse um testemunho a respeito da colaboração do ex-presidente na fundação das AUC. Foi no governo de Uribe que a milícia foi desmobilizada. Segundo Monsalve, um advogado do ex-presidente, Diego Cardena, o pressionou para que ele alterasse o testemunho.