Óleo chega à foz do Rio São Francisco; investigação agora mira 23 navios
Contenção esbarra em falta de equipamento e Sergipe terá de comprar 200 metros de boias, ao custo de R$ 90 mil; apuração de Marinha e PF, até agora, descarta naufrágio e já considera o tráfego de ‘navios fantasmas’, embarcações criminosas de piratas
Técnicos ambientais detectaram, ontem, manchas de óleo na foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, litoral sul de Alagoas. A detecção ocorre no mesmo dia em que o governo de Sergipe descobriu que não poderia instalar boias rapidamente para tentar impedir que o óleo chegue à área – pelo fato de os equipamentos não estarem disponíveis.
A foz do São Francisco fica na divisa entre Alagoas e Sergipe. Anteontem, o governo sergipano declarou que usaria boias absorventes cedidas pela Petrobrás. Ontem foi informado pela estatal que não havia equipamentos disponíveis. Dessa forma, o Estado terá de comprar 200 metros de equipamento, ao custo de R$ 90 mil, de uma empresa do Espírito Santo. A informação foi dada pelo diretor-presidente da Administração do Meio Ambiente, Gilvan Dias. Ele acionou os Ministérios Públicos Estadual e Federal e a Justiça Federal, pedindo ajuda. “Ficamos de mãos atadas.”
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas confirmou que a chegada de petróleo à foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, poderia ter sido evitada com o uso de barreiras de contenção no mar, mas a eficácia desta medida dependeria de o material estar concentrado.
Origem. As investigações sobre a origem do petróleo, que tiveram início em 2 de setembro, se concentram, na fase atual, em 23 embarcações suspeitas. O trabalho é conduzido por Marinha e Polícia Federal.
O cruzamento de informações, conforme apurou a reportagem, aponta que, na região investigada, havia embarcações de diversas origens. O trabalho passa por cruzar rotas mais usadas no transporte de petróleo e a direção que as toneladas de óleo tomaram até chegar às praias do Brasil. O material identificado até agora em amostras tem a “assinatura” do petróleo da Venezuela.
A hipótese de que o petróleo lançado no mar brasileiro seja fruto de um naufrágio está praticamente descartada. Uma das linhas de investigações, segundo uma fonte, considera o tráfego de “navios fantasmas”, embarcações criminosas de piratas que poderiam atuar no contrabando de petróleo.
O governo continua a tratar do tema com sigilo. Nesta quarta-feira, durante audiência na Câmara, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que, “ao que tudo indica, se trata de um navio estrangeiro”, sem dar detalhes.
Questionado sobre o assunto, o ministro afirmou que a pasta tem atuado para conter os danos
e recolher o material que chega às praias. Mais de cem toneladas de borra já foram recolhidas. O trabalho é de difícil execução porque o petróleo não avança sobre a lâmina d’água, mas no fundo do mar, até chegar ao litoral.
Situação das praias. Até agora, apenas Ceará e Sergipe, nesta semana, passaram a identificar praias impróprias para banho por causa do petróleo cru. “Compreendemos que todas as praias com manchas de óleo visíveis estão impróprias para banho”, diz, em comunicado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará.
Já o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de Sergipe, Ubirajara Barreto, afirmou que “a recomendação é de que a população evite locais atingidos pela substância oleosa”. “É prudente a não utilização das praias, bem como a não retirada, por conta própria, de nenhuma substância, mesmo com o intuito de ajudar.” O Estado procurou os demais Estados, que afirmaram não apresentar problemas de balneabilidade.
“A grande questão é agir rápido, resolver o problema, não ficar buscando culpados, isso pode ser feito depois”, afirmou Márcio Nele, do Programa de Pós-Graduação da Coppe/UFRJ. Especialistas destacam que o Brasil já dispõe de um Plano Nacional de Contingência. “Cada lugar tem as suas especificidades, suas particularidades”, ressalta o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento Costeiro da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), João Luiz Nicolodi, citando correntes marítimas, ondas, praia e areia.
A limpeza pode ser feita de três formas, que podem ser combinadas. As boias são usadas em derramamentos menores. Há ainda embarcações específicas, equipadas com aparelhos capazes de aspirar o óleo. Por fim, em caso de acidentes de proporções ainda maiores, podem ser usadas substâncias químicas lançadas de aviões, chamadas de dispersantes.