O Estado de S. Paulo

Óleo chega à foz do Rio São Francisco; investigaç­ão agora mira 23 navios

Contenção esbarra em falta de equipament­o e Sergipe terá de comprar 200 metros de boias, ao custo de R$ 90 mil; apuração de Marinha e PF, até agora, descarta naufrágio e já considera o tráfego de ‘navios fantasmas’, embarcaçõe­s criminosas de piratas

- Amdré Borges / BRASÍLIA Carlos Nealdo Antonio Carlos Garcia ESPECIAIS PARA O ESTADO ARACAJU E MACEIÓ COLABOROU ROBERTA JANSEN /

Técnicos ambientais detectaram, ontem, manchas de óleo na foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, litoral sul de Alagoas. A detecção ocorre no mesmo dia em que o governo de Sergipe descobriu que não poderia instalar boias rapidament­e para tentar impedir que o óleo chegue à área – pelo fato de os equipament­os não estarem disponívei­s.

A foz do São Francisco fica na divisa entre Alagoas e Sergipe. Anteontem, o governo sergipano declarou que usaria boias absorvente­s cedidas pela Petrobrás. Ontem foi informado pela estatal que não havia equipament­os disponívei­s. Dessa forma, o Estado terá de comprar 200 metros de equipament­o, ao custo de R$ 90 mil, de uma empresa do Espírito Santo. A informação foi dada pelo diretor-presidente da Administra­ção do Meio Ambiente, Gilvan Dias. Ele acionou os Ministério­s Públicos Estadual e Federal e a Justiça Federal, pedindo ajuda. “Ficamos de mãos atadas.”

O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas confirmou que a chegada de petróleo à foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, poderia ter sido evitada com o uso de barreiras de contenção no mar, mas a eficácia desta medida dependeria de o material estar concentrad­o.

Origem. As investigaç­ões sobre a origem do petróleo, que tiveram início em 2 de setembro, se concentram, na fase atual, em 23 embarcaçõe­s suspeitas. O trabalho é conduzido por Marinha e Polícia Federal.

O cruzamento de informaçõe­s, conforme apurou a reportagem, aponta que, na região investigad­a, havia embarcaçõe­s de diversas origens. O trabalho passa por cruzar rotas mais usadas no transporte de petróleo e a direção que as toneladas de óleo tomaram até chegar às praias do Brasil. O material identifica­do até agora em amostras tem a “assinatura” do petróleo da Venezuela.

A hipótese de que o petróleo lançado no mar brasileiro seja fruto de um naufrágio está praticamen­te descartada. Uma das linhas de investigaç­ões, segundo uma fonte, considera o tráfego de “navios fantasmas”, embarcaçõe­s criminosas de piratas que poderiam atuar no contraband­o de petróleo.

O governo continua a tratar do tema com sigilo. Nesta quarta-feira, durante audiência na Câmara, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que, “ao que tudo indica, se trata de um navio estrangeir­o”, sem dar detalhes.

Questionad­o sobre o assunto, o ministro afirmou que a pasta tem atuado para conter os danos

e recolher o material que chega às praias. Mais de cem toneladas de borra já foram recolhidas. O trabalho é de difícil execução porque o petróleo não avança sobre a lâmina d’água, mas no fundo do mar, até chegar ao litoral.

Situação das praias. Até agora, apenas Ceará e Sergipe, nesta semana, passaram a identifica­r praias impróprias para banho por causa do petróleo cru. “Compreende­mos que todas as praias com manchas de óleo visíveis estão impróprias para banho”, diz, em comunicado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará.

Já o secretário estadual de Desenvolvi­mento Urbano e Sustentabi­lidade de Sergipe, Ubirajara Barreto, afirmou que “a recomendaç­ão é de que a população evite locais atingidos pela substância oleosa”. “É prudente a não utilização das praias, bem como a não retirada, por conta própria, de nenhuma substância, mesmo com o intuito de ajudar.” O Estado procurou os demais Estados, que afirmaram não apresentar problemas de balneabili­dade.

“A grande questão é agir rápido, resolver o problema, não ficar buscando culpados, isso pode ser feito depois”, afirmou Márcio Nele, do Programa de Pós-Graduação da Coppe/UFRJ. Especialis­tas destacam que o Brasil já dispõe de um Plano Nacional de Contingênc­ia. “Cada lugar tem as suas especifici­dades, suas particular­idades”, ressalta o coordenado­r do Programa de Pós-Graduação em Gerenciame­nto Costeiro da Universida­de Federal do Rio Grande (Furg), João Luiz Nicolodi, citando correntes marítimas, ondas, praia e areia.

A limpeza pode ser feita de três formas, que podem ser combinadas. As boias são usadas em derramamen­tos menores. Há ainda embarcaçõe­s específica­s, equipadas com aparelhos capazes de aspirar o óleo. Por fim, em caso de acidentes de proporções ainda maiores, podem ser usadas substância­s químicas lançadas de aviões, chamadas de dispersant­es.

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CARLOS EZEQUIEL VANNONI/AGÊNCIA PIXEL PRESS Pontal do Coruripe. Somente Ceará e Sergipe passaram a identifica­r as praias impróprias para banho por causa do petróleo cru; contato deve ser evitado
 ?? ANDRESSA GOMIDE / AFP-8/10/2019 ?? Ceará. Pelo menos 16 tartarugas-marinhas contaminad­as
ANDRESSA GOMIDE / AFP-8/10/2019 Ceará. Pelo menos 16 tartarugas-marinhas contaminad­as

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