Achado pode impulsionar energia limpa
Entre benefícios listados para justificar a escolha de pesquisas com baterias de lítio para receber a láurea de Química, organizadores do Nobel destacaram a possibilidade de elas levarem a uma sociedade livre de combustíveis fósseis – o que ajudaria a conter o aquecimento global.
“Essas descobertas levaram ao desenvolvimento de um produto fantástico, com aplicações em muitas instâncias, desde telefones que quase todos nós usamos diariamente, a veículos, como carros e bicicletas elétricas. E vem crescendo o uso como complemento para fontes de energia que flutuam ao longo do tempo, como a solar e eólica”, disse Olof Ramström, do comitê do Nobel.
A expectativa é de incrementar o uso dessas baterias em veículos elétricos – aumentando sua autonomia e reduzindo seu preço – e também melhorá-las e barateá-las a fim de que possam armazenar energias alternativas de fontes hoje intermitentes, como solar e eólica.
Especialistas avaliam que as baterias de íons de lítio, que vêm evoluindo ao longo dos anos, são fundamentais, mas para que essa revolução aconteça talvez sejam necessários novos avanços. “Para mudar o paradigma para o carro elétrico precisamos ter baterias mais avançadas, como o que vem se buscando com lítio-ar, com uma capacidade energética muito grande, redução do tempo de carga e vida mais longa”, diz Rubens Maciel Filho, professor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor do Centro de Inovação em Novas Energias (Cine), que pesquisa esses dispositivos.
Escala. Baterias de íon de lítio já são usadas em alguns casos para armazenar a energia excedente de fontes solares e eólicas. A Califórnia tem feito isso com baterias já usadas de carros elétricos e pequenas comunidades na Amazônia contam com esse recurso para ter energia à noite. Mas ainda não houve um ganho de escala.
O engenheiro Raul Beck, da comissão técnica de veículos elétricos e híbridos da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE) no Brasil, afirma que já há estimativas de que, por volta de 2030, os carros elétricos respondam por metade da frota. E isso somente com a evolução mais linear dessas baterias de lítio. “O caminho da mobilidade vai ser elétrico. De 2010 para cá os preços dessas baterias caíram cerca de 80%”, diz.
Akira Yoshino, um dos vencedores do Nobel, disse ontem ter ficado feliz que sua descoberta possa ajudar o meio ambiente. “Espero que isso encoraje jovens cientistas.”