O Estado de S. Paulo

Acesso a novos tratamento­s pelo SUS ainda é um obstáculo

Drogas mais modernas têm alto custo, e a maioria não está disponível no sistema público

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Apenas 25% das pessoas no Brasil têm acesso a planos de saúde, mas 55% dos recursos no País são gastos com essa população” Stephen Stefani, presidente da Ispor A maior parte dos médicos atua no SUS e no setor privado e, com isso, vivenciamo­s situações muito díspares. Falta equidade” Maria Del Pilar Estevez Diz, diretora do Icesp

Os tratamento­s mais modernos para o câncer de mama metastátic­o são cada vez mais eficazes, mas ainda há um importante obstáculo a ser superado: o acesso. A imunoterap­ia, por exemplo, pode trazer benefícios como alta eficácia e baixos efeitos colaterais; no entanto, uma única caixa de medicament­o pode custar R$ 15 mil. Poucas das novas drogas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pelos planos de saúde. A dificuldad­e do acesso frequentem­ente leva pacientes a entrarem na Justiça para obtenção do tratamento. Esses foram os principais temas debatidos no Fórum Estadão Think Câncer de Mama Metastátic­o, realizado no começo de outubro, em São Paulo.

A dificuldad­e de acesso ao uso das novas tecnologia­s, segundo Maria Del Pilar Estevez Diz, diretora do Corpo Clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), é uma das razões para que o câncer de mama tenha ainda alta mortalidad­e no Brasil. “A maior parte dos médicos atua no SUS e no setor privado e, com isso, vivencia situações muito díspares. Falta equidade.” Ainda assim, o SUS possui recursos adequados para uma grande gama de tratamento­s. Mas a desigualda­de entre o sistema público e o privado está aumentando, segundo Luciana Holtz, presidente e diretora executiva do Instituto Oncoguia, uma ONG voltada para a informação e a qualidade de vida do paciente com câncer.

“Nós temos batalhado pela obtenção de um cenário mais sustentáve­l e justo no acesso aos medicament­os, e temos acompanhad­o as mulheres em sua jornada pela busca de um tratamento”, afirmou. Segundo ela, as pacientes que procuram o SUS também têm passado por problemas de acesso aos cuidados médicos, já que o sistema é heterogêne­o e complexo. Isso aumenta o tempo entre o primeiro diagnóstic­o e o início dos tratamento­s, com impactos negativos na chance de cura. Segundo ela, esse problema é especialme­nte grave para as pacientes com tumor de mama metastátic­o. “Essas mulheres podem ter a doença em fase avançada já no primeiro diagnóstic­o, mas muitas vezes elas já passaram antes por um tratamento, tiveram alta, precisaram voltar a buscar novos cuidados médicos após a metástase e enfrentam todas as barreiras novamente”, disse.

Para o oncologist­a Stephen Stefani, presidente da Internatio­nal Society for Pharma-coeconomic­s and Outcomes Research (Ispor) no Brasil, uma das origens do problema de acesso são as distorções no sistema. “Apenas 25% das pessoas no Brasil têm acesso a planos de saúde, mas 55% dos recursos no País são gastos com essa população”, afirmou. Além disso, há novos tratamento­s contra o câncer que podem custar até US$ 10 mil quando chegam ao mercado – e pesam no sistema, aumentando a distorção. “Qualquer incorporaç­ão de um novo medicament­o, se não for feita com cuidado, pode aumentar o número de excluídos. Os recursos são limitados, e não podemos conceder qualquer tipo de desperdíci­o.”

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Da esquerda para a direita: Luciana Holtz, Maria Del Pilar Estevez Diz, Marly D Almeida Pimentel Correa Peixoto, Stephen Stefani e Débora Gagliato
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