Novos tratamentos melhoram qualidade de vida de pacientes
Desenvovimento de remédios e combinações inéditas de drogas são avanços na luta contra a doença
Odiagnóstico de um câncer de mama metastático é sempre devastador, mas a descoberta de novas drogas está acontecendo em um ritmo sem precedentes, multiplicando as opções terapêuticas, de acordo com José Bines, oncologista do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “Embora a gente diga que a doença metastática é incurável na maior parte das vezes, já é possível vislumbrar que esse conceito mudará ao longo do tempo”, afirma.
A maior parte das drogas é muito nova, e as descobertas não param. As que estão estabelecidas há mais tempo – e que, portanto, já tiveram os resultados mais bem avaliados – são os medicamentos para os tumores de mama do subtipo HER2. Segundo Bines, eles já foram considerados os mais agressivos no passado e tinham taxa de mortalidade muito elevada. Ainda de acordo com o especialista, as pacientes com o tumor HER2 positivo que já têm a doença metastática no momento do diagnóstico têm se beneficiado muito das novas drogas. Algumas delas, embora não possam ser consideradas curadas, já convivem com a doença metastática há 10 anos, sem que ela se manifeste. “Infelizmente ainda não é a regra, mas esses avanços abrem perspectivas para algo que há pouco tempo era impensável”, afirma Bines. O primeiro anticorpo monoclonal para a doença foi lançado há mais de 10 anos. Atualmente, há outros que, inclusive, podem ser utilizados em associação à quimioterapia. “Sem dúvida, o maior avanço que tivemos nas terapias contra o câncer de mama metastático ocorreu para esse subtipo de tumores”, declarou.
Para o câncer de mama triplo negativo, o cenário já é mais adverso, mas ainda assim há novidades. “Há cerca de um ano começaram a surgir resultados muito bons no campo da imunoterapia”, explica Bines. O tratamento consiste em ativar o próprio sistema imunológico para que ele destrua as células de câncer. Esses tratamentos ainda servem apenas para uma parte das pacientes, e os resultados ainda não são definitivos. “Mas já começa a se desenhar um potencial de controle mais longo da doença – o que é um avanço incrível, já que há pouquíssimo tempo a única opção para os tumores triplo negativos era a quimioterapia”, disse.
Inovações reais
Se já há novas drogas bem estabelecidas para os tumores HER2 e um início de esperança para as pacientes com o tumor triplo negativo, o avanço mais recente e impactante para as pacientes com câncer de mama metastático ocorreu no subgrupo de tumores dependentes de hormônios, de acordo com Gilberto Amorim, oncologista clínico da Oncologia D’Or e membro da SBOC. “A grande novidade é a classe de medicamentos anti-hormonais, conhecidos como inibidores de ciclina. Muitas pacientes acabam desenvolvendo uma resistência aos tratamentos, mas respondem bem a essas drogas”, afirma Amorim.
Segundo o oncologista, há alguns anos, a progressão do tumor de mama metastático acontecia em um período de 10 a 14 meses. Com esses novos fármacos, o avanço está sendo adiado para mais de dois anos após o primeiro tratamento. Um dos resultados apresentados no encontro da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo, na sigla em inglês), no início de outubro, mostra que o tratamento com inibidores de ciclina continua a evoluir rapidamente, segundo Amorim.
Os tumores dependentes de hormônio são justamente os mais comuns, perfazendo de 60% a 70% do total de tumores de mama metastáticos. Há muito tempo os cientistas já haviam compreendido que, quando os receptores de hormônios estão presentes no tumor, uma estratégia possível para combatê-lo seria bloquear essa sinalização e impedir que os hormônios estimulem a proliferação das células tumorais. Os novos tratamentos, porém, combinam o bloqueio hormonal com os inibidores de ciclina, que potencializam ainda mais a inibição do alastramento do tumor – e por isso essa classe de drogas tem sido tão importante para o câncer metastático.
A grande novidade é a classe de medicamentos anti-hormonais, conhecidos como inibidores” Gilberto Amorim, oncologista clínico da Oncologia D’Or e membro da SBOC