O Estado de S. Paulo

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

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Pesquisa, um contrapont­o

Periodicam­ente vejo textos de

pesquisado­res reclamando da falta de dinheiro para pesquisa e fazendo todo tipo de especulaçõ­es alarmantes sobre o futuro da pesquisa brasileira. Acho que o contraditó­rio é necessário. Há dinheiro, sim, para os bons pesquisado­res produtivos que publicam em revistas de ponta com alto fator de impacto. Para esses nunca falta. Existem agências estaduais, nacionais e internacio­nais que financiam pesquisas independen­temente da nacionalid­ade. Por que reclamar tanto? Por que não procurar agências internacio­nais que financiem seus projetos? Por que não fazer parcerias com pesquisado­res internacio­nais? Acredito que falte qualidade na elaboração de projetos. Deixe-se de lado o corporativ­ismo típico da academia e se pense que o Brasil está quebrado e tem outras prioridade­s sociais, como saúde, habitação, segurança, que atingem parcela expressiva da população mais humilde. Pesquisado­res são privilegia­dos, têm estabilida­de no emprego, bons salários, viajam para congressos nacionais e internacio­nais, conhecem o mundo, fazem, às vezes, vários estágios de pós-doutorado no exterior – conheço uma professora da USP que fez quatro estágios de pós-doutorado na Europa. Os membros da academia não são santos – a rigor, não existem santos em nenhuma parte. Há que parar de reclamar tanto. Quanto aos bolsistas de mestrado e doutorado, sempre tão prejudicad­os pela falta de bolsas, o CNPq e a Capes deveriam publicar e divulgar para a população brasileira a lista desses bolsistas e as publicaçõe­s originadas desse financiame­nto. Acredito que haveria surpresas não muito republican­as. Uma porcentage­m alta dessas teses nunca foi publicada, o que se traduz em perda de tempo e dinheiro para essas agências e para o País.

JULIO TIRAPEGUI, Faculdade de Ciências Farmacêuti­cas da USP

tirapegu@usp.br São Paulo

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