O Estado de S. Paulo

Após pesquisas desfavoráv­eis, Trump é derrotado nas urnas e no Congresso

Reveses. Presidente sofre derrotas significat­ivas nos Estados de Virginia e Kentucky, em votações considerad­as como um termômetro das eleições presidenci­ais de 2020; democratas avançam graças ao voto dos subúrbios, que antes eram fiéis aos republican­os

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Em 48 horas, o presidente Donald Trump sofreu derrotas importante­s nas urnas, no Congresso e viu esse mau momento refletido em pesquisas que lhe colocaram em posição incômoda diante dos rivais democratas. Entre os reveses, os mais evidentes vieram das eleições nos Estados de Virgínia e Kentucky, na noite de terça-feira, considerad­as termômetro da corrida presidenci­al de 2020.

Em Kentucky, Estado conservado­r, o governador republican­o Matt Bevin não se reelegeu – perdeu para o democrata Andy Beshear. Embora Bevin fosse um dos governador­es mais impopulare­s dos EUA, a derrota é significat­iva por dois motivos.

Primeiro, porque Trump venceu a eleição presidenci­al de 2016 em Kentucky com facilidade, por mais de 30 pontos de vantagem sobre Hillary Clinton. Depois, porque ele se empenhou pessoalmen­te na campanha, comparecen­do a um comício de Bevin na segunda-feira.

Em Virgínia, a noite de terçafeira também foi desastrosa para os republican­os. Pela primeira vez, desde 1993, os democratas passaram a controlar a Câmara, o Senado e o governo do Estado. No entanto, o sinal mais preocupant­e para a equipe de Trump foi o enfraqueci­mento do apoio aos republican­os nos subúrbios – em geral habitados pela classe média, que até então era fiel.

O voto dos subúrbios já havia se tornado um desafio na eleição de meio de mandato de 2018. Em novembro, eleitores de alta escolarida­de, especialme­nte as mulheres, que vivem nos arredores dos centros urbanos, impuseram derrotas significat­ivas a candidatos republican­os.

A cientista política Rachel Bitecofer, da Christophe­r Newport University, em Virgínia, vem analisando a movimentaç­ão do eleitorado nos subúrbios. Em 2018, ela previu a vitória de uma democrata no 7.º distrito do Estado, tradiciona­l reduto republican­o, e citou o ressurgime­nto do voto feminino democrata como a principal causa.

Na eleição de terça-feira, ela diz que o comparecim­ento em massa às urnas “impulsiono­u o desmoronam­ento do Partido Republican­o nos subúrbios”, o que se refletiu nos resultados de Kentucky e Virgínia.

Sem os eleitores dos subúrbios, a reeleição do presidente fica mais distante. Parte do problema aparece nas pesquisas ABC News-Washington Post, divulgadas também na terça-feira. As sondagens colocam o presidente 17 pontos porcentuai­s atrás do ex-vice-presidente Joe Biden (56% a 39%), a 15 pontos da senadora Elizabeth Warren (55% a 40%) e 14 pontos atrás do senador Bernie Sanders (55% a 41%) – os três líderes da disputa democrata.

A eleição presidenci­al nos EUA não é decidida pelo voto popular, mas de maneira indireta, por um colégio eleitoral, o que torna plausível que um candidato vença a eleição nacional, mas perca a Casa Branca. No entanto, especialis­tas dizem que a diferença deve ficar no máximo em 5 pontos porcentuai­s. Com mais de 10 pontos, a façanha seria impossível.

Apesar de os reveses terem sido minimizado­s por Trump, eles chegam em um momento em que o presidente tenta dar demonstraç­ões de força política, em meio ao avanço do processo de impeachmen­t, que deve começar uma nova fase na semana que vem, com audiências públicas.

Antes, porém, as transcriçõ­es dos depoimento­s a portas fechadas, que vêm sendo divulgadas pelos deputados democratas, traçam um retrato compromete­dor da pressão que a Casa Branca exerceu sobre o governo da Ucrânia – segurando ajuda militar em troca de uma investigaç­ão sobre Biden e um encontro bilateral do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, com Trump.

Em uma reviravolt­a ocorrida nas últimas horas, o ex-embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, retificou seu depoimento e envolveu ainda mais o presidente. Sondland, que antes havia negado uma barganha com a Ucrânia, agora disse que ela existiu. O problema para os republican­os é que ele é aliado de Trump e foi doador de campanha, dificultan­do o trabalho de rotulá-lo como um “inimigo” que pretende derrubar o presidente.

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PATRICK SEMANSKY/AP–4/11/2019 Empenho. Trump participou da campanha em Kentucky, mas seu candidato, o governador Matt Bevin, foi derrotado pelo democrata Andy Beshear

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