O Estado de S. Paulo

‘Doutor Sono’ é a continuaçã­o que King tinha de escrever

- Marcius Azevedo

“Ei, você sabe o que aconteceu com aquele garoto de O Iluminado?” A pergunta foi feita a Stephen King por um sujeito qualquer em uma sessão de autógrafos, em uma das inúmeras cidades em que ele passou para divulgar o livro Saco de Ossos, em 1998.

O questionam­ento já havia sido feito diversas vezes pelo próprio escritor em devaneios ao realizar tarefas simples, como tomar banho ou assistir a TV. Viagens longas despertava­m em King uma obrigação de revelar o que havia acontecido com Danny Torrance e sua mãe, Wendy, após o trauma no Hotel Overlook. “Ficava calculando qual seria sua idade e onde ele poderia estar.”

Lançado em 2013, Doutor Sono é uma continuaçã­o de O Iluminado, o livro, e não do filme de Stanley Kubrick. King faz questão de alertar o leitor sobre o fato. Até hoje, ele mantém sua posição contrária ao diretor, morto em 1999. Em 1997, o próprio escritor fez sua versão do clássico em minissérie de TV de três episódios.

Na história, Danny, agora só Dan, luta contra o mesmo vício, o alcoolismo, que levou seu pai, Jack Torrance, à insanidade e à morte em O Iluminado. Trabalhand­o em uma casa de repouso em New Hampshire após muitos anos à deriva por causa da bebida, Dan, agora quase um quarentão, utiliza o que lhe ainda resta do dom de iluminado para dar o conforto final para pessoas que estão morrendo. Com auxílio de um gato, que se aproxima dos moribundos, ele recebe o apelido de Doutor Sono. A calmaria termina quando ele conhece Abra Stone, uma menina de 12 anos, ainda mais poderosa e iluminada do que ele. E o mal mais uma vez está à espreita.

O que seria algo inofensivo traz à tona os fantasmas da traumática infância de Dan, em um confronto com o “Verdadeiro Nó”, horda de sugadores de almas. Esses, digamos, vampiros acreditam que o poder de Abra pode curá-los definitiva­mente.

Apesar de admitir que sentiu inseguranç­a ao revisitar O Iluminado, King tinha de fazê-lo. Danny, personagem icônico da literatura e do cinema, embora o escritor não goste dessa segunda parte, não poderia ficar esquecido para sempre.

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