Dança questiona crises sociais e políticas globais
Mais enxuto, 12º Festival Contemporâneo de Dança de São Paulo ocorre até dia 10, e terá Ligia Lewis e Panaíbra Canda
Como resistir e reinventar quando as crises sociais, políticas e econômicas se tornam constantes? A dúvida que tem tomado boa parte das ações culturais é também a que move a 12.ª edição do Festival Contemporâneo de Dança de São Paulo, que, com uma programação enxuta, ocorre até 10 de novembro, no Itaú Cultural, Sesc Avenida Paulista e Centro Cultural São Paulo.
Neste ano, por causa das dificuldades financeiras que comprometem não apenas os patrocinadores e parceiros brasileiros, mas também os internacionais, o festival traz apenas duas apresentações: a coreógrafa dominicana Ligia Lewis, com Minor Matter, e o moçambicano Panaíbra Gabriel Canda, que traz Tempo e Espaço: Os Solos da Marrabenta. “São artistas que estão pensando o mundo através do corpo, experimentando a partir de questões contemporâneas e urgentes”, disse Adriana Grechi, diretora artística do festival, em entrevista ao Estado.
Identidades em fluxo, o indivíduo como algo não permanente, em constante transformação a partir dos contextos culturais e dinâmicas sociais: essa é a temática que perpassa os dois trabalhos. A ideia é trazer à cena corpos que não se submetem ao exotismo do fetiche colonial, a partir das diversas metáforas associadas, principalmente, às formas da negritude.
“Tento trabalhar essas questões identitárias a partir das dinâmicas do próprio ser. A identidade não é uma coisa estática, há camadas que vão formando o indivíduo. São essas diferentes camadas que eu uso para falar do corpo moçambicano, africano e, principalmente, o meu próprio corpo, que está em cena. Identidades que vão se transformando a cada etapa da vida”, explicou Panaíbra sobre Tempo e Espaço.
Já Ligia Lewis propõe uma relação entre a ideia de corpo negro e a proposição de “caixa preta” teatral, em um jogo de propor novos sentidos estabilizados. A proposta é oferecer ao público uma pergunta sobre limites – de compreensão, leituras, determinações –, a partir de jogos de exaustão, colaboração e embate entre os artistas, propostos pela cena.
Apesar de os trabalhos serem de contextos diversos, compartilham uma mesma crise política, que os une. “Há uma tendência, na esfera global, de intolerância à diversidade, ao grande valor da liberdade de expressão, de democracia”, afirmou Panaíbra.