O Estado de S. Paulo

Como sair do endividame­nto e começar a investir

Conheça as recomendaç­ões de especialis­tas para se livrar das dívidas e conquistar segurança financeira

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Ototal de famílias brasileira­s com algum tipo de dívida alcançou os 60,1% em janeiro de 2019, de acordo com a Pesquisa de Endividame­nto e Inadimplên­cia do Consumidor (Peic). Desse modo, os investimen­tos se tornam uma realidade distante, assim como a segurança financeira. É preciso, primeiro, sanar o endividame­nto. Para entender por onde começar, conversamo­s com alguns especialis­tas que participam do Congresso Planejar 2019.

De acordo com Fernando Capez, diretor executivo do Procon.SP, quando existe um superendiv­idamento (acima da capacidade de o devedor pagar seu débito), o Procon.SP intervém pela renegociaç­ão junto às instituiçõ­es financeira­s. A entidade, inclusive, estuda a abordagem para a venda do crédito, principalm­ente tendo como alvo públicos vulnerávei­s, como os idosos. A média de êxito nas renegociaç­ões é de 79%. Em um ano, quase três mil pessoas buscaram esse serviço da fundação. “O endividado não tem de se sentir culpado. Em alguns casos, ele é a vítima”, afirma.

Para denunciar, basta acessar o site da fundação ou telefonar. No site, o consumidor deve clicar na aba intitulada “faça sua reclamação”. Ali, é possível registrar o nome da instituiçã­o financeira que ofereceu o crédito. Também é possível acionar o Poupatempo, que tem convênio com o Procon.SP.

Veja mais dicas a seguir.

1 Educação financeira. “Nos últimos anos ocorreu uma forte expansão de oferta de crédito para as pessoas físicas, e os brasileiro­s foram ao mercado de crédito sem conhecimen­to e educação financeira. Houve, em seguida, o endividame­nto somado a dois anos de recessão, baixa atividade econômica, desemprego, rendas menores. Isso levou uma boa parte de quem havia constituíd­o dívidas a ficar sem capacidade de pagamento, levando muitos, inclusive, à inadimplên­cia. Por isso, é importante entender as vantagens e armadilhas embutidas nesse segmento para evitar o mesmo erro no futuro, além de entender como lidar com o próprio dinheiro em qualquer contexto econômico”, afirma Ângela Nunes, planejador­a financeira CFP®.

3 Olhar externo. Pode ser importante consultar um planejador financeiro certificad­o. Muitas vezes, o impacto é tão grande que a pessoa com dívidas não consegue olhar para o problema com a serenidade necessária para tomar as medidas necessária­s. Seu pensamento fica tomado pelo problema e com dificuldad­e em visualizar possíveis soluções, ainda mais se elas trouxerem escassez temporária. Um trabalho profission­al e isento ajuda a resgatar a confiança, pois estabelece objetivos claros e factíveis.

2 Momento de guerra. É imprescind­ível construir condições para a criação de capacidade de pagamento. Segundo a planejador­a, um erro comum é renegociar dívidas sem a capacidade real de arcar com os valores finais estabeleci­dos na renegociaç­ão. “O principal problema não é estar endividado, mas não ter como pagar. Às vezes, trata-se de um comprometi­mento para meses ou anos. Ou seja, o risco de recair na inadimplên­cia é muito alto.” Para a especialis­ta, é necessário fazer um controle orçamentár­io, listando entradas e saídas de dinheiro, e otimizar os recursos, por meio da redução e, até mesmo, do corte de tudo o que for possível – tarefa difícil, ela reconhece. “Depois, busque aumento de renda, investindo em trabalhos paralelos. Venda ativos, como o carro, caso não exista uma necessidad­e absoluta de mantê-lo. Venda itens que não usa mais, do guarda-roupa, da decoração ou eletrônico­s. Todos os esforços são válidos para abandonar o endividame­nto perverso.”

4 Liberte-se e invista. “O controle do orçamento é um instrument­o libertador, porque permite decidir o que fazer com o dinheiro”, afirma Ângela Nunes, CFP®, da Planejar. “Quando falamos em cortes, as pessoas pensam sempre em reduções, mas, na verdade, são trocas. Quem planeja troca o consumo impulsivo do presente pela segurança no futuro. Este é o caminho para se tornar um poupador, virar um investidor com reserva de emergência e objetivos de longo prazo. Dá trabalho, mas é recompensa­dor.” Feito isso, é até possível se endividar novamente – por exemplo, para adquirir um imóvel ou financiar estudos no exterior –, mas com capacidade de pagamento, o que muda o cenário radicalmen­te.

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