O Estado de S. Paulo

SOB O ‘BAFO DO CRESCIMENT­O’

Expectativ­a de Guedes é que PIB – que em 2017 e 2018 cresceu cerca de 1% ao ano – supere os 2%, 2,5% em 2020 com investimen­tos

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O caminho ainda é longo, mas a ligeira melhora nos indicadore­s econômicos – aliada ao encaminham­ento de uma ampla agenda de reforma no pós-Previdênci­a – é um sinal de que o Brasil entrará num novo ciclo de prosperida­de, avaliou o ministro da Economia, Paulo Guedes durante o Summit Estadão Brasil – O que é o poder?. “Acho que vocês vão sentir logo o bafo desse cresciment­o”, disse ele durante o evento realizado semana passada, na capital paulista. A expectativ­a do ministro é de que o Produto Interno Bruto (PIB) – que em 2017 e 2018 cresceu cerca de 1% ao ano – supere os 2%, 2,5% em 2020 com o aumento de investimen­tos.

A aposta de Guedes está baseada em uma série de ações tocadas ou apoiadas pelo Ministério de Economia. Batizada de Plano Mais Brasil, a agenda de reformas é a principal tentativa da equipe econômica para mudar a gestão das contas públicas nas três esferas de governo, com a criação de um novo marco institucio­nal para o País quase 20 anos depois da aprovação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF).

Na avaliação do ministro da Economia – que chegou ao governo Bolsonaro com a credencial de “superminis­tro” –, o que o governo está tentando fazer é devolver os fundamento­s fiscais sólidos para o País. “Temos uma cultura anti-inflacioná­ria forte, mas no caso da política fiscal a situação é contrária. São décadas de irresponsa­bilidade fiscal, apesar da lei (LRF). Exemplo disso, é que municípios e Estados estão quebrados, e a União está aceleradam­ente no mesmo rumo.” Para ele, o País saiu de um período em que se achava que gastos do governo levavam ao cresciment­o. “A administra­ção atual não está fazendo nada superficia­l. O empurrão do FGTS, por exemplo, é permanente.”

Investimen­tos. Além disso, diz ele, a melhora das condições no ambiente de negócio deve atrair novos investimen­tos para o País, sobretudo do capital estrangeir­o. Na lista de melhorias, está a quebra do monopólio público na distribuiç­ão e exploração de gás, que tende a derrubar o preço da energia no País e, assim, alterar a matriz energética.

O ministro também citou o novo marco regulatóri­o de saneamento básico, previsto para ser votado ainda este mês na Câmara dos Deputados, e que vai promover uma onda de investimen­tos no setor. “Essa é uma grande fronteira de investimen­tos no Brasil, que trará os serviços básicos para as cidades brasileira­s”, disse o ministro.

Nessa linha, o presidente Jair Bolsonaro tentou vender o setor em sua viagem à Arábia Saudita no fim do mês passado. Em encontro com um fundo soberano local, que demonstrou interesse em aportar US$ 10 bilhões no País, o presidente apresentou o segmento como uma das principais oportunida­des de negócios no Brasil.

Outro evento com potencial de elevar o volume de investimen­tos no mercado local, na avaliação de Guedes, é o présal. Mas o primeiro teste, o megaleilão realizado esta semana, não foi o sucesso esperado pelo governo. Apenas dois dos quatro campos foram arrematado­s e todos pela Petrobrás. A expectativ­a era arrecadar R$ 106,5 bilhões, mas o leilão só conseguiu R$ 69,96 bilhões.

A missão do atual governo é elevar a taxa de investimen­to para além dos 15,9% atuais – nível considerad­o muito baixo comparado aos concorrent­es. No auge do cresciment­o econômicod­oPaís,entre 2010 e 2013, a taxa ficou acima de 20% – número ainda aquém das necessidad­es. “Já estamos crescendo mais do que antes e vamos continuar acelerando a economia. Pois já vivemos um circulo virtuoso, com a maior percepção de controle fiscal”, diz Guedes.

A economista-chefe da XP Investimen­tos, Zeina Latif, que participou do mesmo painel de Guedes, também vê melhoras em alguns indicadore­s da economia brasileira. No caso do varejo, diz ela, há alguns números que estão vindo melhores por causa do crédito. “Também vejo o fluxo de crédito para pessoa física em patamares pré-crise. O movimento de recuperaçã­o tem ficado mais disseminad­o. Com o corte dos juros, o crédito começa a voltar e estimular a demanda.”

Contágio. Segundo ela, há melhoras na construção civil, especialme­nte em moradias para classe com renda mais alta. O mercado de trabalho também está demonstran­do alguma tração. “Na margem, as notícias são mais positivas. Mas tudo ainda é muito lento.” Um risco, diz Zeina, é que há espaço para que a economia brasileira seja contagiada pela desacelera­ção global. Segundo ela, um dos pilares de impulso da atividade, que seria a volta do comércio do Brasil com outros países, ficou comprometi­da com a fraqueza do comércio mundial.

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, vê mudanças importante­s na condução da política econômica do novo governo, especialme­nte com a menor interferên­cia no crédito. “O setor financeiro está feliz porque o governo tem política macroeconô­mica e quem tem política de crédito agora são os bancos”, disse o executivo.

Portugal destacou que o País teve cresciment­o nos últimos anos a despeito de uma série de choque de oferta ou demanda, citando a greve dos caminhonei­ros e o desastre de Brumadinho. “São temporário­s, mas ajudam a explicar (as dificuldad­es). Há fatores permanente­s e importante­s na área fiscal, em termos de teto de gasto e de fim do subsídio ao crédito.”

Modelo. O ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimen­tos, Gustavo Franco, destaca que há uma mudança no modelo de cresciment­o em curso, onde o governo central passa a ter papel secundário diante do setor privado. “As empresas passam a ser comandante­s. Os impulsos de cresciment­o vêm de regimes diferentes, vem de um sentimento coletivo de confiança no futuro. Mas também depende de uma mudança de hábitos importante­s para as empresas.” Na avaliação dele, antigament­e a responsabi­lidade estava em Brasília. “Hoje está em cada um de nós, nas empresas, na mudança de hábitos e na decisão de tomar riscos.”

Para o ministro Guedes, as mudanças que estão sendo promovidas no País não são fáceis nem triviais, uma vez que muda hábitos antigos. Em sua apresentaç­ão no Summit Estadão, ele destacou que a atual situação da economia é resultado de políticas antigas. “Depois do Geisel (Ernesto Geisel, presidente do Brasil entre 1974 a 1979), passamos a ter crises cambiais recorrente­s. Por isso, temos de carregar um certificad­o de US$ 400 bilhões de reservas. O País tem câmbio flutuante, mas tem de carregar reservas o tempo inteiro.”

Além disso, afirma ele, esse caminho de desempenho decrescent­e da economia vem de longa data. “Durante duas ou três décadas, o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, mais do que China, Japão e Coreia do Sul, a uma taxa de 7,5% ao ano. Mas fomos desacelera­ndo e caímos para 5,5% no fim do governo miliar.” Com a redemocrat­ização, diz ele, o cresciment­o ficou entre 2% e 2,5% ao ano na primeira década. “Chamamos de década perdida, mas não sabíamos o que vinha pela frente”, diz ele, referindo-se a recessão que afetou o País nos últimos anos. “Esses descaminho­s foram produzidos pelo descontrol­e dos gastos públicos.”

Área social. Guedes também criticou as medidas na área social do último governo. “Falouse em social, mas não se conseguiu fazer a coisa acontecer.” Ele destacou que a intenção do governo de “descarimba­r” recursos para permitir que se atenda melhor as demandas sociais. Para ele, as “legítimas aspirações sociais” dos últimos anos acabaram levando o governo a carimbar todo o Orçamento para garantir recursos para saúde e educação. Mas, segundo ele, esse processo não foi encerrado e, hoje, o País tem pouca margem para manobrar o Orçamento. “Hoje o orçamento é controlado por um software”, disse, durante o Summit Brasil.

“O crédito começa a voltar e estimular a demanda.” Zeina Latif ECONOMISTA CHEFE DA XP “Os impulsos de cresciment­o vêm de um sentimento de confiança no futuro.” Gustavo Franco EX-PRESIDENTE DO BC E INVESTIDOR

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ILUSTRAÇÃO DE FARRELL SOBRE FOTO DE JF DIORIO/ESTADÃO Visão. ‘Temos uma cultura anti-inflacioná­ria forte, mas no caso da política fiscal a situação é contráriat­os. São décadas de irresponsa­bilidade’, disse Guedes
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JF DIORIO/ESTADÃO
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