Miseráveis no País superam a população da Bélgica
Brasil registra o recorde de 13,5 milhões de pessoas que vivem com apenas R$ 145 mensalmente, segundo pesquisa do IBGE
O Brasil registrou, em 2018, o recorde de 13,537 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema, ou seja, com menos de R $145 mensais, segundo critério do Banco Mundial. O total de miseráveis no País cresce desde 2015 eé maior doque a população belga .“Apequena melhora no mercado de trabalho não está chegando a essas pessoas ”, disse André Simões, gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
Mesmo após o fim da recessão econômica, o Brasil registrou em 2018 o recorde de 13,537 milhões de pessoas vivendo na miséria, contingente maior do que toda a população da Bolívia. Os dados são da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O contingente de brasileiros miseráveis supera a população de países como Portugal, Bélgica ou Grécia.
“A pequena melhora no mercado de trabalho não está chegando a essas pessoas, está pegando pessoas já numa faixa mais alta. A extrema pobreza cresce”, disse André Simões, gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
A pesquisa considerou a classificação do Banco Mundial para a pobreza extrema, ou seja, pessoas com rendimentos inferiores a US$ 1,90 por dia, o equivalente a cerca de R$ 145 mensais na conversão pelo método de “paridade de poder de compra” (PPC). Nesse método, em vez da cotação diária da taxa de câmbio, é levado em conta o valor necessário para comprar a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada país em comparação com o mercado interno dos Estados Unidos.
“O principal programa de redução de pobreza do Brasil tem uma linha de corte de R$ 89. Mesmo a pessoa recebendo Bolsa Família, ela vai estar abaixo de uma linha de pobreza global. Está bastante longe dos R$ 145 (adotados pelo Banco Mundial)”, lembrou Leonardo Athias, técnico na Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
O programa Bolsa Família, voltado para a redução da extrema pobreza, atende às famílias com renda per capita de até R$ 89 mensais. Famílias com renda per capita entre R$ 89,01 e R$ 178 mensais podem ser contempladas apenas se tiverem crianças ou adolescentes até 17 anos. O porcentual de famílias que recebem Bolsa Família caiu em sete anos, segundo dados do IBGE, passando de 15,9% dos lares brasileiros em 2012 para 13,7% em 2018.
Segundo Marcelo Neri, diretor da FGV Social e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a extrema pobreza vem crescendo nos últimos anos em função de uma deterioração do mercado de trabalho, que prejudicou especialmente trabalhadores com menor escolaridade, mas também porque o Bolsa Família está com os valores defasados.
Sem renda. “Isso significa que os beneficiários estão recebendo menos, mas também há menos pessoas recebendo o benefício. Teve melhora na eficácia, o governo passou um pente-fino. Mas muita gente deixou de ter renda com a crise e o desemprego, e o Bolsa Família não foi uma rede de proteção eficiente para segurar todas essas pessoas que passaram à extrema pobreza”, avaliou Neri.
O total de miseráveis no País vem crescendo desde 2015. Em 2014, 4,5% dos brasileiros viviam abaixo da linha de extrema pobreza. Em 2018, esse porcentual subiu ao recorde de 6,5%. Em quatro anos de piora, mais 4,504 milhões de brasileiros passaram a viver na miséria.
Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça, em média, 2,5% ao ano até 2030 sem que haja concentração de renda ao longo do caminho, o País ainda terá no fim da próxima década o mesmo contingente de miseráveis que tinha em 2014, calculou Neri.
“Isso mostra a importância de o poder público atuar na base da distribuição, de investir num Bolsa Família 2.0, de fazer inclusão produtiva dos mais pobres. Porque só o crescimento econômico não vai zerar a pobreza extrema”, alertou Neri.
Se considerada a população abaixo da linha de pobreza – acima portanto da extrema pobreza, ou seja, com renda de US$ 5,50 por dia, cerca de R$ 420 mensais na conversão pelo método de PPC –, 25,3% da população brasileira vivia nessas condições, 52,5 milhões de pessoas. Em relação ao período pré-crise, o País tem mais 6,706 milhões de pessoas na pobreza.