O Estado de S. Paulo

Alvim chefiará Cultura, que vai para o Turismo

Em um dia de mudanças radicais na pasta, secretaria especial que pertencia ao Ministério da Cidadania é transferid­a e novo secretário assume sob promessas de Bolsonaro: “A classe artística deve ficar feliz. Lei Rouanet, vem muita coisa boa por aí!”

- Mateus Vargas Lígia Formenti

A Secretaria da Cultura será comandada pelo dramaturgo Roberto Alvim, criticado por parte dos artistas desde que chamou a atriz Fernanda Montenegro de intocável e mentirosa. A pasta será transferid­a para o Ministério do Turismo, deixando o das Cidades. “A classe artística deve ficar feliz. Lei Rouanet, vem muita coisa boa por aí!”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta quinta-feira (7) o dramaturgo Roberto Alvim para o cargo de secretário especial de Cultura, o mais alto da pasta, e disse que ele terá “porteira fechada”. O jargão político usado por Jair Bolsonaro significa que o escolhido contará com carta branca para definir sua equipe.

“A classe artística deve ficar feliz. Lei Rouanet, vem muita coisa boa por aí!”, afirmou o presidente, em uma referência a possíveis mudanças em uma das principais políticas de financiame­nto do setor.

Alvim provocou revolta no meio artístico, no fim de setembro, ao chamar a atriz Fernanda Montenegro de “intocável” e “mentirosa”. O diretor de teatro é discípulo do escritor Olavo de Carvalho e defende o engajament­o de artistas conservado­res em pautas do governo. Ele se aproximou de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, quando declarou apoio ao então candidato do PSL ao Palácio do Planalto.

O dramaturgo atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional das Artes (Funarte). O Estado antecipou que o nome dele era avaliado para o cargo de secretário.

A nomeação ocorreu no mesmo dia em que a Secretaria Especial de Cultura foi transferid­a para ficar sob o guarda-chuva do Ministério do Turismo. Antes, a pasta estava subordinad­a ao Ministério da Cidadania, ocupado pelo ministro Osmar Terra.

Tetos diferentes. A troca de ministério­s retira das mãos de Terra uma área que lhe rendia críticas tanto da classe artística como de pessoas do governo. Além disso, ainda permite que Alvim e o ministro não convivam sob o mesmo teto. A relação de ambos sofreu desgastes recentes e é vista como turbulenta, segundo pessoas do governo. Além do tom irônico ao declarar que artistas ficariam satisfeito­s com a indicação de Alvim, Bolsonaro também indicou ontem que mudanças serão feitas na Funarte e Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Nesta semana, o pianista Miguel Proença foi exonerado da presidênci­a da Funarte. A articulaçã­o pela queda foi atribuída a Alvim. Ao Estado, Proença disse que defender a atriz Fernanda Montenegro foi fator decisivo para a sua saída.

Alvim é o terceiro nome no comando da Cultura em menos de três meses. O economista Ricardo Braga deixou a pasta na última quarta-feira, após 60 dias no cargo, sem deixar qualquer ação de destaque. Em setembro, a saída de Henrique Pires da Secretaria já havia escancarad­o a crise na área. Pires disse que deixava o governo por se opor à suspensão do edital que selecionav­a obras sobre a temática LGBT para exibição em TVs públicas.

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