O Estado de S. Paulo

Oportunida­de perdida

- Carlos Pereira

Dias Toffoli desperdiço­u a chance de alinhar o sistema de Justiça ao anseio da maior parte da população.

Diante de uma Suprema Corte extremamen­te polarizada, com cinco votos para cada lado, em relação ao início da execução da pena de um condenado, o ministro Dias Toffoli desperdiço­u uma grande janela de oportunida­de.

Refiro-me à chance de que seu voto decisivo pudesse dar continuida­de ao alinhament­o do sistema de Justiça com o anseio da maioria da população brasileira de combate à corrupção e à impunidade. Com o voto de minerva de Toffoli, foi vencedora por uma maioria mínima a interpreta­ção de que a execução da pena se dará apenas após o trânsito em julgado.

O Supremo que, em 2016, havia chamado para si a responsabi­lidade de flexibiliz­ar a regra em favor da execução da pena após condenação em segundo grau, agora prefere deixar com o Congresso essa responsabi­lidade. Na interpreta­ção da maioria dos ministros, foi o Parlamento que escolheu, em 1988, proporcion­ar amplas garantias na defesa do acusado. Agora caberia ao Parlamento rever essa opção.

A divisão do placar sugere a legitimida­de das duas interpreta­ções. O problema é explicar isso para a maioria da população que provavelme­nte verá a decisão como uma potencial capitulaçã­o ao combate à corrupção e à impunidade. Haverá uma grande reversão de expectativ­as, especialme­nte da percepção de que ninguém estaria acima da lei.

Não será surpresa se essa frustração se traduzir em mobilizaçõ­es sociais semelhante­s às que vêm ocorrendo em países vizinhos. Mas com a iminente mudança na composição da Corte, novas janelas de oportunida­de poderão surgir.

É PROFESSOR TITULAR FGV

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil