O Estado de S. Paulo

Presidente do Senado não quer discutir nova lei

Senadora pretende levar a comissão PEC para restabelec­er prisão após 2ª instância; Alcolumbre, porém, não deve pautar matéria

- Daniel Weterman Camila Turtelli / BRASÍLIA

Em reação ao resultado do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), que restabelec­eu ontem o entendimen­to de que um condenado só pode ser preso após esgotados todos os recursos, a senadora Simone Tebet (MDBMS), presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) do Senado, disse ao Estadão/Broadcast que pretende colocar em discussão no colegiado uma proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) que autoriza a execução da pena após condenação em segundo grau. A proposta, no entanto, encontra resistênci­a do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), responsáve­l pela definição da pauta de votações no plenário da Casa.

Em seu voto decisivo no julgamento de ontem, que derrubou a possibilid­ade de execução de pena após condenação em segunda instância, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, lembrou que o Congresso tem autonomia para mudar o entendimen­to que garante a um acusado responder em liberdade até o fim da tramitação de um processo na Justiça.

De acordo com a senadora, o texto da proposta para retomar a “segunda instância” deve ser fechado na próxima segundafei­ra, e a expectativ­a é a de que ela seja levada a votação a partir do dia 20. “Mas alterando efeito dos recursos especiais (no Superior Tribunal de Justiça) e extraordin­ário (STF). Alguns senadores estão trabalhand­o no texto ideal”, afirmou.

Alcolumbre, no entanto, rejeita pautar uma proposta para autorizar a prisão de condenados em segunda instância – um dos pilares da Operação Lava Jato. Anteontem, um dia antes do término do julgamento, o presidente do Senado deu o recado. “Isso aí não tem nem perspectiv­a”, afirmou, ao tratar do assunto. Alcolumbre foi procurado pelo Estado ontem após o resultado do julgamento do STF, mas não quis se manifestar.

Câmara. Na Câmara, a votação de uma PEC com o mesmo teor foi anunciada para semana que vem na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ). “A decisão do STF é frustrante”, afirmou o deputado Alex Manente (Cidadania-SP), destacando que parlamenta­res vão acelerar a votação sobre o tema.

Líderes partidário­s, entre eles do PSDB e do Novo, disseram que pretendem trabalhar para votar a proposta na Câmara. “Vou torcer para que o Parlamento mude”, disse o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP). “Vamos fazer de tudo para que mude. É nossa obrigação”, afirmou o líder do Novo, Marcel Van Hattem (RS).

Com a possibilid­ade de soltura do ex-presidente Luiz Inácio

Lula da Silva, integrante­s da oposição comemorara­m a decisão do Supremo. “A decisão é também o reconhecim­ento, depois de um ano e seis meses, de que o ex-presidente Lula ficou preso durante todo esse período de forma ilegal por uma decisão política”, afirmou a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). O partido cobra agora do Supremo a anulação da condenação que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, defensor da prisão após condenação em segundo grau e juiz da sentença de Lula no caso do triplex do Guarujá, evitou comentar os resultados do julgamento do STF. Conforme o Broadcast Político antecipou, Moro deve pedir a retirada do trecho que prevê a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância no pacote anticrime proposto por ele e em tramitação no Senado.

“Antídoto”. O presidente do Senado concorda em pautar um projeto alternativ­o considerad­o como “antídoto” para o fim da prisão após condenação em segundo grau. Toffoli sugeriu alterar o Código Penal de forma a impedir a prescrição de casos que chegam ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo. A demora para a conclusão final de processos e a extinção deles via prescrição são as principais críticas dos defensores da prisão após condenação em segunda instância.

Alcolumbre já liberou para votação em plenário um projeto apresentad­o pelo senador Alvaro Dias (Pode-PR) com a revisão na prescrição. Nas próximas duas semanas, a proposta deve ser adequada nos termos da “emenda Toffoli”.

Apesar da sugestão de Toffoli, a pressão pela PEC da segunda instância continua. “Os ministros do Supremo, chamados de ‘garantista­s’, mais uma vez flexibiliz­am para os criminosos e a população vai pagar a conta disso”, comentou o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP). A revisão do prazo de prescrição é defendida por senadores “lavajatist­as”, mas o grupo fala que isso não é suficiente.

“Ele (Toffoli) está buscando um remédio que não cura, só diminui a dor. É um pretexto para se acabar com a prisão em segunda instância. O fim da prescrição é importante independen­temente da prisão após segunda instância”, afirmou Dias.

O núcleo político do governo considerou a decisão do Supremo um duro golpe à Operação Lava Jato. Um dos interlocut­ores do presidente afirmou que a mudança de entendimen­to da Corte já era esperada desde que se soube que o voto de minerva seria do presidente da Corte, ministro Dias Tofolli.

O entendimen­to atual firmado ontem pelo Supremo causa preocupaçã­o adicional ao Palácio de Planalto, que acompanhar­á de perto a evolução de manifestaç­ões contra e a favor de possível liberação de Lula.

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