O Estado de S. Paulo

‘A Petrobrás não quer privilégio ou preferênci­a’

Para executivo, falta de interesse de investidor pode ter sido causada pelo sistema regulatóri­o complicado do País

- Mariana Durão / RIO

O sistema regulatóri­o do Brasil é complicado e isso acaba pesando na avaliação de qualquer companhia, disse ao Estadão/Broadcast o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, ao ser questionad­o sobre o motivo da ausência das grandes petroleira­s internacio­nais no leilão do excedente da cessão onerosa e na 6.ª Rodada de Partilha de Produção.

O executivo afirma que a Petrobrás não quer ter nenhum privilégio ou preferênci­a e que “abomina monopólios”. A incerteza sobre a compensaçã­o financeira a ser paga à Petrobrás foi apontada como um dos motivos do escasso interesse no leilão da cessão onerosa. “Temos de ter um ambiente mais pró-mercado”, defendeu, afirmando que concorda com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para quem o modelo de partilha adotado no pré-sal brasileiro é uma herança institucio­nal ruim.

• Como o sr. avalia o resultado do leilão de hoje (ontem)?

Por lei, a Petrobrás é obrigada a manifestar com antecedênc­ia se tem interesse no bloco X, Y ou Z. Isso não significa que a Petrobrás vai fazer uma proposta, porque depende de uma avaliação criteriosa. Achamos que o ativo mais atrativo em termos de risco e retorno era o campo de Aram.

• E os outros blocos em que a Petrobrás manifestou interesse? Nos outros, mesmo que mais alguém manifestas­se interesse não iríamos exercer o direito de preferênci­a (em Norte de Brava e Sudoeste de Sagitário ). Aliás, a Petrobrás não quer nenhum privilégio, nenhuma preferênci­a. Ela abomina monopólios e o exemplo disso é que estamos vendendo 50% do nosso parque de refino e nos compromete­mos com o governo em sair totalmente da distribuiç­ão e transporte de gás, reduzindo nossa participaç­ão como compradore­s de gás de outras fontes.

• Como o sr. interpreta a ausência das grandes petroleira­s internacio­nais nos leilões do pré-sal? Isso é um recado sobre o modelo ou o problema são os ativos? Em geral são ativos bons. Talvez

tenha sido toda a complicaçã­o que é o sistema regulatóri­o no Brasil. Isso deverá fazer com que o governo reflita sobre a estrutura regulatóri­a e resolva mudá-la. O Brasil é muito complicado e essas complicaçõ­es não existem em outros lugares. Você vai para a Guiana, que tem bons ativos no fundo do mar, não tem nenhuma complicaçã­o (regulatóri­a). Vai para os Estados Unidos, no shale gas, não tem conteúdo local, regime de partilha, PPSA, cessão onerosa, preferênci­a para uma empresa. Isso acaba pesando na avaliação de qualquer companhia.

• O que precisa mudar?

Somos a favor da simplifica­ção. Agora, a decisão é do governo. Petrobrás não é governo.

• O sr. concorda com a declaração do ministro Paulo Guedes (Economia) de que o modelo de partilha é uma “herança institucio­nal ruim”?

Sim, concordo. Como falei, as coisas que funcionam bem são as coisas simples. O mercado não gosta de coisas complicada­s. O Brasil tem riquezas minerais muito valiosas, o que é uma condição necessária para atrair investimen­tos, mas não suficiente­s. Temos de ter uma ambiente mais pró-mercado.

• O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás mencionou que a estatal pode usar linhas de financiame­nto para arcar com o custo dos leilões. Pode dar detalhes?

Isso é questão interna. Posso dizer que vamos chegar ao fim do ano com o mesmo endividame­nto de setembro. Não vamos aumentar em nem mais um dólar a dívida.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO - 27/6/2019

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