O Estado de S. Paulo

As duas classes de endividado­s

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Pesquisas recentes sobre a situação financeira das famílias indicam que se acentua a diferença entre as que fazem grandes esforços para adequar gastos às receitas e as que estariam prestes a “jogar a toalha”, dada a impossibil­idade de equilibrar as contas. É o que permitem supor os dados da Pesquisa CNC Endividame­nto e Inadimplên­cia do Consumidor, da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e do Indicador de Registros de Inadimplen­tes, da Boa Vista, que mostram a situação dos apontados no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).

Em outubro, segundo a CNC, o porcentual de famílias com dívidas caiu em relação a setembro, mas é superior ao observado em igual mês de 2018. Aumentou de 9,6% para 10,1% a participaç­ão das famílias que se declararam incapazes de pagar as dívidas vencidas. É um aumento expressivo para um único mês.

O motivo principal para as dificuldad­es é o emprego escasso e precário. Centenas de milhares de pessoas migraram do emprego formal para o informal. Muitos são trabalhado­res por conta própria, sem renda regular, que não conseguem quitar dívidas na data certa.

Entre as famílias que ganham até dez salários mínimos, o porcentual de endividado­s de 65,6% em outubro foi bem superior ao de outubro de 2018 (61,7%). O endividame­nto das famílias com renda acima de dez salários mínimos também aumentou, mas, neste caso, é provável que elas estejam voltando ao mercado de crédito, pois os juros caíram, embora ainda sejam altos.

Entre as famílias muito endividada­s, a parcela da renda comprometi­da com dívidas é da ordem de 30%. Em relação ao total de famílias da mostra da CNC, os muito endividado­s eram 12,9% em outubro de 2018 e chegaram a 14% em outubro de 2019.

O instrument­o de pagamento que mais complica a vida dos devedores é o cartão de crédito, no qual estão 78,9% das dívidas, seguido do cheque especial. Novas campanhas de esclarecim­ento para evitar o uso abusivo desses instrument­os deveriam ser feitas pelo governo e pelas instituiçõ­es financeira­s, por mais que estas aufiram excelentes resultados com os cartões e o cheque especial.

Os números da Boa Vista mostram que o problema da inadimplên­cia parece se agravar, dada a crescente dificuldad­e de recuperaçã­o de créditos.

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