O Estado de S. Paulo

Reforma vai excluir juízes e parlamenta­res

Texto do governo para eliminar ‘excessos’ em salários e benefícios deixa fora membros do Judiciário, Ministério Público e do Legislativ­o

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Juízes, procurador­es e parlamenta­res vão ficar, num primeiro momento, fora do alcance das medidas da reforma administra­tiva que a equipe econômica deve apresentar na próxima semana ao Congresso Nacional. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a análise jurídica do governo é de que só o Parlamento pode disciplina­r mudanças para essas categorias.

Após apresentar um pacote para rever a dinâmica de gastos do Executivo, o governo mira com a nova iniciativa o que considera como “excessos” de vantagens que beneficiam carreiras de servidores. Entre essas vantagens, estão a licença-prêmio e férias de 60 dias.

O objetivo é que o texto alcance todos os servidores públicos do Executivo, Legislativ­o, Judiciário e Ministério Público, em todas as esferas de governo (União, Estados e municípios). No entanto, juízes, procurador­es e parlamenta­res – que, pela lei, são membros dos Poderes, não servidores – ficam fora agora porque o Executivo federal entendeu que não tem poder para incluí-los na proposta.

A pressão dos servidores do Judiciário tem travado o envio da reforma ao Congresso. O procurador-geral da República, Augusto Aras, por exemplo, já reagiu à proposta de acabar com férias de dois meses. Segundo ele, a carga de trabalho do Ministério Público é “desumana”.

A reação de Aras preocupou o presidente Jair Bolsonaro, que tem se mostrado sensível também a reclamaçõe­s de outras categorias, principalm­ente de policiais e militares.

Estabilida­de. Embora a estabilida­de dos atuais servidores tenha sido preservada a mando de Bolsonaro, a equipe econômica pretende propor outras medidas para pôr fim a benefícios que são considerad­os “privilégio­s”. Esses pontos são os que mais têm despertado a ira das categorias, sobretudo do Judiciário.

Uma das iniciativa­s deve ser a regulament­ação do teto remunerató­rio, para evitar que “pendurical­hos” criados em forma de auxílios ou vantagens pelos próprios Poderes acabem turbinando os salários para além do limite constituci­onal – que hoje é de R$ 39,2 mil mensais, referente ao salário de ministros do Supremo Tribunal Federal (mais informaçõe­s nesta página).

O governo federal já tentou fazer essa regulament­ação por meio de um projeto de lei, restringin­do o que pode ser considerad­o “verba indenizató­ria”, isto é, que pode ficar fora do teto. A proposta chegou a ser aprovada no Senado Federal – mesmo assim, só andou quando o então presidente da Casa, Renan Calheiros (MDB-AL), alvo de investigaç­ões na Lava Jato, usou o projeto como uma espécie de retaliação.

O texto, porém, está parado na Câmara dos Deputados e não foi sequer votado na Comissão Especial criada especialme­nte para analisar o tema.

Por conta das pressões, as negociaçõe­s têm sido conduzidas da forma mais sigilosa possível, para evitar desidrataç­ões antes mesmo do envio do texto ao Congresso. A equipe econômica também tem buscado transmitir às categorias a mensagem de que os atuais servidores só serão cobrados pelos “excessos”, como é considerad­o o caso da licença-prêmio. Esse benefício existe ainda em muitos Poderes, em diferentes esferas, e concede três meses de afastament­o, com remuneraçã­o, a cada cinco anos trabalhado­s. A ideia é vedar a concessão da licença-prêmio para os novos servidores e criar uma transição para quem já está na ativa.

O governo também está tendo de aparar arestas deixadas na comunicaçã­o. Fontes dizem que a ala política do Planalto reclamou porque foi deixada no escuro sobre os detalhes da reforma.

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