Lula deixa prisão, ataca Moro e Lava Jato e reacende polarização
Ao anunciar volta à política, ex-presidente disse que vai rodar o País, que, para ele, ‘piorou’ com Jair Bolsonaro na Presidência
Depois de passar 580 dias na prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou ontem a sede da Polícia Federal em Curitiba, beneficiado pela decisão do STF de derrubar a possibilidade de prisão após 2.ª instância. Em discurso a apoiadores, Lula anunciou que vai rodar o País para propor alternativas às políticas do governo Bolsonaro, disse que com o atual presidente “o País piorou” e criticou o ministro Sérgio Moro (Justiça) e a Lava Jato. Ele também atacou o que chamou de “lado podre” do MPF, da PF e da Receita. Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, Lula não pode se candidatar a cargo público. Um ato de apoio a ele está previsto para hoje no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua convocaram manifestações para pressionar o Congresso a votar a prisão em 2ª instância.
Oex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi libertado ontem da prisão em Curitiba, onde estava desde 7 de abril do ano passado, um dia após o Supremo Tribunal Federal derrubar a possibilidade de execução da pena após condenação em segunda instância. O líder petista deixou a sala especial da Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital paranaense às 17h42. Ontem, como há 580 dias, quando fez ataques ao então juiz Sérgio Moro, à imprensa, ao Ministério Público e ao Supremo antes de se entregar à PF, Lula falou para apoiadores e manteve retórica crítica às instituições. O ex-presidente mirou no que chamou de “lado podre do Estado brasileiro”, citando a Justiça, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a Receita Federal – setores que, segundo o petista, agiram para criminalizar a esquerda, o PT e a ele próprio.
Condenado em três instâncias da Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP), Lula permanece com os direitos políticos cassados – o que o impede de se candidatar –, mas a análise mais recorrente é que sua liberdade reacende a polarização do petismo com o presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Durante uma fala de 17 minutos, o ex-presidente disse que “o Brasil piorou” e acusou o atual governo e Bolsonaro de mentirem. Um ato está previsto para hoje no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). O mercado financeiro também interpretou a soltura de Lula como um sinal de acirramento da polarização política, com possível impacto no andamento da pauta econômica do governo. O dólar registrou o terceiro dia consecutivo de alta (fechou em R$ 4,16) e a Bolsa fechou com queda de 1,78%.
Considerado uma derrota da Lava Jato, o entendimento do Supremo de que um condenado tem o direito de responder em liberdade até o fim de todos os recursos abriu caminho para a soltura de até 4.895 presos em todo o País. Entre eles, políticos sentenciados nos últimos anos. Ontem, também foram beneficiados com a liberdade dois ex-presidentes do PT e do PSDB: o ex-ministro José Dirceu e o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, respectivamente. Moro, atual ministro da Justiça, defendeu ontem que o Congresso analise proposta que altere a Constituição para autorizar novamente a prisão após condenação em segunda instância.