O Estado de S. Paulo

Maia diz que pode pautar 2ª instância na Câmara

Ministro diz que o Parlamento é a instância para discussão de um novo entendimen­to

- BRASÍLIA / RICARDO BRANDT, PEDRO PRATA, FAUSTO MACEDO, CAMILA TURTELLI, DANIEL WETERMAN e MARIANA HAUBERT

O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, defendeu ontem o direito do Legislativ­o de alterar a Constituiç­ão para prever a prisão após condenação em segunda instância, um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) vetar a possibilid­ade. Uma proposta sobre o tema deve ser votada na segundafei­ra em comissão da Câmara e, segundo o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pode ir a votação no plenário caso seja aprovada. A medida, porém, enfrenta resistênci­a entre lideranças partidária­s no Congresso, onde cerca de um terço dos parlamenta­res é investigad­o.

Por 6 votos a 5, o STF decidiu anteontem que um condenado tem o direito à liberdade até o fim de todos os recursos judiciais. “O Congresso pode, de todo modo, alterar a Constituiç­ão ou a lei para permitir novamente a execução em segunda instância, como, aliás, reconhecid­o no voto do próprio presidente do STF, Dias Toffoli”, disse Moro ao Estado. “Afinal, juízes interpreta­m a lei e congressis­tas fazem a lei, cada um em sua competênci­a.”

Duas propostas de emenda à Constituiç­ão (PECs) estão em discussão, simultanea­mente, na Câmara e no Senado. A que está em análise pelos deputados deve ser votada na segunda-feira pela Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ). A data foi marcada ontem pelo presidente do colegiado, Felipe Francischi­ni (PSL-PR), após tentativas frustradas de se votar a medida antes do julgamento no Supremo.

“Uma proposta polêmica nunca é fácil de ser aprovada, mas vejo que há apoio de vários deputados”, disse Francischi­ni. São necessário­s os votos de ao menos 34 dos 66 integrante­s da CCJ para a proposta ser aprovada. O texto ainda precisará passar por uma comissão especial e só então pode ir ao plenário, onde precisa do apoio de três quintos dos deputados (308 dos 513 parlamenta­res).

Integrante­s de partidos do Centrão e da oposição, porém, resistem à PEC. “Nenhuma possibilid­ade de passar. Nem pauta. O pessoal que está querendo é minoria, mas no plenário não passa”, afirmou o presidente do Solidaried­ade, Paulinho da Força (SP). “Se isso for feito (pautar a PEC) vai ser lido como uma afronta ao PT”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), em uma referência à liberdade concedida ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o novo entendimen­to do STF.

A chamada bancada “lavajatist­a”, porém, pressiona. Ontem,

um grupo de 15 deputados do PSL assinou documento em que ameaça obstruir a pauta caso a medida não avance.

Questionad­o pelo Estadão/Broadcast se a PEC será pautada no plenário após passar pelas comissões, Maia respondeu:

“Acredito que sim”.

Prerrogati­va

“O Congresso pode, de todo modo, alterar a Constituiç­ão ou a lei para permitir novamente a execução em segunda instância.”

Sérgio Moro

MINISTRO DA JUSTIÇA

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 5/11/2019 Legislativ­o. Sérgio Moro afirma que ‘juízes interpreta­m a lei e congressis­tas fazem a lei, cada um em sua competênci­a’

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