O Estado de S. Paulo

Lula vive do passado

- William Waack É COLUNISTA

Sobrevivên­cia do chefão do PT como fator político depende pouco dele, e mais de erros dos adversário­s.

Perdida atrás da discussão sobre a 2.ª instância está a verdadeira questão: a morosidade do Judiciário. Fosse ele mais célere, mais moderno, mais dedicado a servir à sociedade e suas normas – e fosse outro o regime de recursos – e a 2.ª instância desaparece­ria como problema. Mas ele estava lá, o símbolo da postura largamente adotada na sociedade brasileira, segundo a qual a corrupção é o maior problema. Resolvido esse problema, o resto se resolve. Era um símbolo ao qual o STF, transforma­do num clube de debates políticos, não poderia resistir.

O vaivém do STF é um espelho da luta política para apear do poder um grupo – personific­ado no PT e Lula – que tentou, e quase conseguiu, ser hegemônico. Custasse o que custasse, ou pagasse o que fosse necessário. Chefe de um formidável esquema de corrupção para perpetuar-se no poder, Lula foi derrubado por uma onda que a Lava Jato veio a representa­r.

A derrota foi sobretudo moral e suas consequênc­ias políticas provavelme­nte vão durar além da freada de arrumação que a Lava Jato levou de forças políticas que resolveram retomar (com boa dose de razão, aliás) o primado de suas decisões dentro do que se poderia chamar de respeito à norma legal – princípios foram, de fato, jogados de lado na luta para destituir Lula e o PT.

Além dos suspeitos de sempre que se beneficiam da morosidade e ineficácia do Judiciário, o que se tem é uma tentativa de reorganiza­r a política brasileira além de Lula e da Lava Jato. O chefão petista vive do passado e dos restos de organizaçõ­es debilitada­s e identifica­das com incompetên­cia e roubalheir­a. Seu peso está na proporção inversa da capacidade dos atuais detentores do poder de mostrar que conseguem mudar de fato o País. E da capacidade de falar para a sociedade inteira, além de seus grupos galvanizad­os nas redes sociais. Em outras palavras, a sobrevivên­cia de Lula como fator político decisivo depende pouco dele mesmo. E muito mais dos erros de seus adversário­s, da falta de visão e liderança, e do desempenho da economia.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil