Lula vive do passado
Sobrevivência do chefão do PT como fator político depende pouco dele, e mais de erros dos adversários.
Perdida atrás da discussão sobre a 2.ª instância está a verdadeira questão: a morosidade do Judiciário. Fosse ele mais célere, mais moderno, mais dedicado a servir à sociedade e suas normas – e fosse outro o regime de recursos – e a 2.ª instância desapareceria como problema. Mas ele estava lá, o símbolo da postura largamente adotada na sociedade brasileira, segundo a qual a corrupção é o maior problema. Resolvido esse problema, o resto se resolve. Era um símbolo ao qual o STF, transformado num clube de debates políticos, não poderia resistir.
O vaivém do STF é um espelho da luta política para apear do poder um grupo – personificado no PT e Lula – que tentou, e quase conseguiu, ser hegemônico. Custasse o que custasse, ou pagasse o que fosse necessário. Chefe de um formidável esquema de corrupção para perpetuar-se no poder, Lula foi derrubado por uma onda que a Lava Jato veio a representar.
A derrota foi sobretudo moral e suas consequências políticas provavelmente vão durar além da freada de arrumação que a Lava Jato levou de forças políticas que resolveram retomar (com boa dose de razão, aliás) o primado de suas decisões dentro do que se poderia chamar de respeito à norma legal – princípios foram, de fato, jogados de lado na luta para destituir Lula e o PT.
Além dos suspeitos de sempre que se beneficiam da morosidade e ineficácia do Judiciário, o que se tem é uma tentativa de reorganizar a política brasileira além de Lula e da Lava Jato. O chefão petista vive do passado e dos restos de organizações debilitadas e identificadas com incompetência e roubalheira. Seu peso está na proporção inversa da capacidade dos atuais detentores do poder de mostrar que conseguem mudar de fato o País. E da capacidade de falar para a sociedade inteira, além de seus grupos galvanizados nas redes sociais. Em outras palavras, a sobrevivência de Lula como fator político decisivo depende pouco dele mesmo. E muito mais dos erros de seus adversários, da falta de visão e liderança, e do desempenho da economia.