O Estado de S. Paulo

O PT e a pobreza extrema

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O último governo lulopetist­a deixou legado de profunda crise econômica e degradação de indicadore­s sociais.

Os 4,5 milhões de brasileiro­s incorporad­os à população que vive em situação de extrema pobreza entre 2014 e 2018 compõem o resultado social mais dramático do desastre político, econômico e administra­tivo que foi o governo da presidente Dilma Rousseff, em boa hora afastada do cargo pelo Congresso em agosto de 2016. O último governo lulopetist­a fez o Brasil piorar muito, pois seu legado foi uma profunda crise econômica, que vai sendo superada lentamente, e a degradação de alguns dos principais indicadore­s sociais, sobretudo os que se referem a emprego e renda. Entre 2014 – último ano do primeiro mandato de Dilma, quando começa a crise – e 2018, o número de brasileiro­s vivendo abaixo da linha da pobreza passou de 45,817 milhões para 52,523 milhões. Os números mostram também a falácia das chamadas políticas sociais dos governos petistas, anunciadas como responsáve­is pelo fim da pobreza no País, mas cujos efeitos, quando detectados, se mostraram efêmeros, pois sempre faltou base de sustentaçã­o a essas políticas, a começar pela preparação adequada dos beneficiad­os para seu desenvolvi­mento pessoal.

A Síntese de Indicadore­s Sociais – Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) é um retrato preciso das condições em que vivem os brasileiro­s. Sua série histórica, a partir de 2012, é também um atestado da irresponsa­bilidade com que os governos do PT manipulara­m os principais indicadore­s sociais. Houve, de fato, alguma melhora nesses indicadore­s nos primeiros anos do primeiro mandato de Dilma, como a redução porcentual e em números absolutos da população extremamen­te pobre e dos brasileiro­s que vivem abaixo da linha de pobreza. Mas o resultado final é assustador.

A pesquisa do IBGE utiliza o critério do Banco Mundial para a classifica­ção de pobreza extrema, que são as pessoas com rendimento inferior a US$ 1,90 por dia, o que correspond­ia, no ano passado, a R$ 145,00 mensais. O número de pessoas vivendo na situação de pobreza extrema, de 13,537 milhões no ano passado, é o maior de toda a série do IBGE. Esse número supera a população da Bolívia. A pequena melhora que se observa há algum tempo no mercado de trabalho não está alcançando essa população. “A extrema pobreza cresce”, observou o gerente da Coordenaçã­o de População e Indicadore­s Sociais do IBGE, André Simões.

A proporção de brasileiro­s abaixo da linha de pobreza – com renda mensal de aproximada­mente R$ 440,00, pouco mais de 44% do salário mínimo em vigor no ano passado – parou de crescer em 2018: correspond­ia a 25,3% da população, índice um pouco inferior ao observado em 2017 (26,0%). Mas ainda é muito alto e preocupant­e, pois correspond­e a 52,5 milhões de pessoas, 6,7 milhões mais do que em 2014.

Outros indicadore­s também mostram a deterioraç­ão do quadro econômico e social do País nos últimos anos. Entre 2015 e 2018, o PIB per capita acumulou redução de 7,8% e o consumo das famílias, de 3,8%. Entre 2012 e 2014, esses indicadore­s haviam crescido 2,8% e 9,6% respectiva­mente.

O pior período para esses indicadore­s ocorreu entre 2015 e 2016, quando os recuos foram tão fortes que nem a recuperaçã­o observada nos dois anos seguintes foi suficiente para compensá-los. Não por coincidênc­ia, esses são os anos em que o País assistiu ao processo de impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff.

O impacto da crise que marcou os dois últimos anos da gestão lulopetist­a foi intenso sobre o mercado de trabalho. Esse impacto não está evidente no número de trabalhado­res ocupados ou na taxa de desocupaçã­o, mas na qualidade do trabalho. Foram eliminados muitos empregos de melhor qualidade, no mercado formal e em boa parte da indústria, e aumentou o número de trabalhado­res no mercado informal. O número recorde de trabalhado­res domésticos observado em 2018, 6,24 milhões de pessoas, é um reflexo dessa mudança. Outra consequênc­ia é a interrupçã­o da trajetória ascendente da renda do trabalhado­r. Entre 2014 e 2018, ela caiu 2,5%.

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