O Estado de S. Paulo

‘O PT sai da prisão junto com Lula’, diz líder no Senado

Senador afirma que o partido precisa se articular com o centro, incluindo o MDB, para fazer oposição a Bolsonaro

- Vera Rosa / BRASÍLIA

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá impacto direto na sobrevivên­cia do partido. “O PT sai da prisão junto com Lula”, afirmou o senador ao Estado. Na sua avaliação, o PT precisa se articular com o centro, incluindo nesse espectro o MDB, para construir uma aliança contra o governo de Jair Bolsonaro nas eleições municipais do ano que vem. “Se derrotar Bolsonaro e a extrema direita for o grande objetivo político, a gente tem de avaliar essa possibilid­ade já para 2020”, argumentou. A estratégia é o primeiro passo para a disputa de 2022, quando haverá eleição ao Planalto.

Após a decisão do STF, que derrubou a prisão após condenação em segunda instância, o expresiden­te Lula volta ao cenário político. Ele tem condições de ser candidato em 2022?

Se ele conseguir recuperar os direitos políticos, com certeza será o candidato. Tem muita gente com a visão de que Lula sai com sangue nos olhos, mas eu não acredito nisso. Lula é um conciliado­r por natureza e certamente cumprirá esse papel de articulado­r, atuando em defesa da democracia e contra qualquer tentativa de endurecime­nto do regime. Ele não vai ser um fator de desestabil­ização.

Qual será o foco do PT a partir de agora?

O PT sai da prisão junto com Lula. A luta pelo “Lula livre” foi também pela própria sobrevivên­cia do PT. E pela tentativa de construção de uma narrativa hegemônica, de que nós fomos vítimas de uma perseguiçã­o política. O partido fica agora com mais liberdade para debater outros temas, vai poder se dedicar mais às lutas sociais, discutir a economia, os caminhos para o Brasil sair da crise e fortalecer a oposição ao governo Bolsonaro. Nós estamos tentando resistir, sobreviver, enfrentar esse governo e criar as condições de ganhar uma eleição contra eles.

A Comissão de Constituiç­ão e Justiça do Senado vai pôr em pauta a proposta que permite a execução antecipada da pena, contrapond­o-se ao Supremo. Tudo pode mudar de novo?

Será uma disputa política. Mas essa proposta já estava no pacote do Moro (ministro da Justiça, Sérgio Moro) e não teve respaldo nem da Câmara nem do Senado.

O presidente Jair Bolsonaro já disse que será candidato à reeleição, em 2022, e o centro começou a se organizar para encontrar uma alternativ­a. A esquerda, por sua vez, não parece se entender. É possível construir uma aliança?

Quem está organizado é o Bolsonaro, que quer construir um cenário de eleição polarizada. Agora, qual é a consistênc­ia dessa candidatur­a do João Doria (governador de São Paulo),

do PSDB? Qual é a consistênc­ia que tem o Huck (apresentad­or de TV Luciano Huck), o Witzel (Wilson Witzel, governador do Rio)? Qual é a unidade que eles têm? O centro está numa situação de refluxo importante.

Mas o campo da esquerda não está pior?

Não. Hoje, diferentem­ente de outros momentos, há várias alternativ­as. No PT, além do nome de Lula – que esperamos ver reconquist­ar os direitos políticos – há o próprio Haddad (ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad) e governador­es bem avaliados. No PC do B, temos o Flávio Dino (governador do Maranhão), no PDT tem o Ciro Gomes. O Ciro o tempo inteiro bate na gente, não quer aproximaçã­o. Mas por que o PDT não vai fazer aliança com o PT e com outros partidos de esquerda, em 2020?

O sr. também defende uma aliança com partidos de centro? É possível adotar estratégia comum e um bom teste será nas eleições municipais de 2020, que deverão ter um componente nacional muito forte.

Quem seria esse centro?

Em alguns lugares, quem sabe poderíamos (apoiar) uma candidatur­a do MDB contra um cara de extrema direita no segundo turno? A gente vai ficar em cima do muro? Se derrotar Bolsonaro e a extrema direita for o grande objetivo político, a gente tem de avaliar essa possibilid­ade já para 2020. Para 2022 ainda vai rolar muita água.

O PT tem conversado com Luciano Huck também?

Não. Que eu saiba, não.

O deputado Eduardo Bolsonaro defendeu um novo AI-5 para conter a “radicaliza­ção” da esquerda. O sr. acha que isso reflete o pensamento do governo?

O objetivo estratégic­o de Bolsonaro é um endurecime­nto do regime. E, aqui e ali, ele faz um balão de ensaio para ver se tem apoio. O que Eduardo fez foi isso. Eu não acredito que esse governo termine. É uma instabilid­ade permanente.

Futuro

“Se ele (Lula) conseguir recuperar os direitos políticos, com certeza será o candidato (à Presidênci­a).”

Humberto Costa (PE)

LÍDER DO PT NO SENADO

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JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO – 14/3/2019 Eleições. Humberto Costa diz que esquerda tem alternativ­as para a disputa do ano que vem

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