O Estado de S. Paulo

‘Quero o ouro em Tóquio e depois o título mundial’

Única brasileira garantida na Olimpíada de 2020, a atleta vive grande fase e conta como está a sua preparação para os Jogos

- Paulo Favero

Única brasileira já classifica­da no surfe para os Jogos Olímpicos,

Tatiana Weston-Webb vive um grande momento na modalidade que escolheu. Nascida em Porto Alegre, a filha de mãe brasileira com pai inglês se mudou ainda bebê para o Havaí e lá aprendeu a pegar ondas. E foi em cima da prancha que ela carimbou seu passaporte para Tóquio-2020.

Aos 23 anos, ela tem potencial de chegar longe na Olimpíada.

Enquanto dava entrevista exclusiva ao Estado, ela mexia com as mãos em um colar com uma concha. “Foi meu irmão que me deu, então seguro isso porque fico com saudade dele”, contou, em português fluente e com leve sotaque.

Como está a expectativ­a para 2020, com Circuito Mundial e Jogos Olímpicos?

Poucas atletas na vida têm a chance de ganhar uma medalha de ouro olímpica. É um título gigante, sempre foi meu sonho e quero conquistá-lo. Seria incrível. E também tem o Circuito Mundial, que está incrível, com ótimas etapas, e acreditamo­s muito na World Surfe League (WSL), que tem apoiado bastante o surfe e fez com que as premiações fossem iguais para homens e mulheres.

Você optou por representa­r o Brasil no surfe. Nos últimos meses sua vida mudou bastante?

Mudou sim, mas eu sempre estava no Brasil, melhorei também no meu português, então já tinha isso acontecend­o na minha vida. Quando me tornei “brasileira”, acho que todo mundo estava vendo isso acontecend­o. Meu sonho era que ocorresse um pouco antes, mas não tive a opção dessa escolha anos atrás. Estou muito orgulhosa e feliz por representa­r o Brasil.

O Brazilian Storm surgiu principalm­ente por causa dos homens no surfe. Acha que você também faz parte disso? É o Brasil inteiro, todo mundo está virando surfista. Com a construção das piscinas de ondas, o esporte será acessível em diversos lugares e muitos terão oportunida­de de aprender a surfar e quem sabe disputar uma Olimpíada. O surfe está crescendo bastante e estou muito feliz de fazer parte desse Brazilian Storm.

O que te encantou no surfe?

Eu morava no Havaí e cresci dentro da água, aprendendo a “ler” o mar. É o estilo de vida de lá. Surfava com minhas amigas, me divertia bastante, e um dia isso se tornou um pouco mais real quando minha mãe acreditou em mim e me colocou numa competição. Ela viu que eu tinha “sangue nos olhos” para a disputa e falou que acreditava que eu poderia ficar muito boa no esporte. Escolhi o surfe e começou a virar uma realidade muito rapidament­e para mim. Agora vou para a Olimpíada representa­ndo o Brasil e nem dá para acreditar. Estou muito feliz.

Até quando você pretende competir?

Eu tenho 23 anos, a Silvana Lima tem 35. Se ficar até a idade dela, ficaria mais 12 anos no Circuito. A gente tem uma vida longa no surfe e tem grandes coisas para acontecer.

Você se dá bem com a Silvana, que está buscando a vaga olímpica também?

Eu e a Silvana somos amigas, torço muito para ela e acredito que ela torça para mim. A gente tem grandes chances de ir bem na Olimpíada, acho que ela vai se classifica­r também. No tipo de onda do Japão, tudo pode acontecer. Vou treinar nesse tipo de onda para melhorar e estar pronta.

Como você vê a situação das mulheres no surfe?

Igualdade é muito importante hoje em dia para qualquer mulher dentro do esporte. É um movimento no mundo inteiro. O machismo é algo muito atrasado, não cabe mais. Os homens estão acreditand­o mais nas mulheres para conquistar seus sonhos e acho que é questão de tempo para melhorar ainda mais.

Eu sinto essa responsabi­lidade de mostrar o caminho para elas. É uma vida difícil, tem de treinar bastante, mas é importante se manter otimista e acreditar nos seus sonhos. Tem de dar o máximo, ser feliz e eu apenas tento transmitir alegria para elas.

Você virou surfista profission­al e vem tendo bom desempenho. E agora, quais são seus sonhos?

Quero ser medalha de ouro na Olimpíada e depois conquistar o título mundial de surfe. Mais para frente quero criar uma família com o Jesse (Mendes, namorado brasileiro da atleta).

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Escolha. Tatiana optou por representa­r o Brasil no surfe

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