O Estado de S. Paulo

Sombra no programa de emprego

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA

Há dúvidas consideráv­eis dentro da própria equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a eficácia da proposta de desoneraçã­o do custo das empresas nas contrataçõ­es de jovens de 18 a 29 anos em busca do primeiro emprego e de pessoas acima de 55 anos.

A desoneraçã­o parcial é uma das medidas mais importante­s do pacote de emprego que o presidente Jair Bolsonaro lança na próxima segunda feira, à tarde, no Palácio do Planalto, com a edição de uma medida provisória.

Batizado de Trabalho Verde Amarelo, o programa é a principal aposta do presidente entre as medidas da agenda econômica pós-Previdênci­a, que ganhou tração na semana passada com o envio de três Propostas de Emenda à Constituiç­ão (PECs) na área fiscal.

A equipe do secretário de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho, calculou para o presidente que o pacote tem poder para incentivar a geração de cerca de 4 milhões de empregos até o fim do seu mandato de governo. Bolsonaro se empolgou com os números, já que as taxas de desemprego ainda elevadas têm sido um calcanhar de aquiles para o seu governo e motivo de pressão sobre a equipe econômica.

A coluna apurou que a desoneraçã­o focada em faixa de idade gerou muito embate interno na área técnica do Ministério da Economia, mas o aval do presidente ao projeto de Marinho e Guedes acabou prevalecen­do.

Há uma avaliação entre técnicos do Ministério da Economia de que o desenho da nova política de desoneraçã­o tem falhas. Uma das preocupaçõ­es é que a desoneraçã­o, por faixas de idade, pode provocar distorções e deslocamen­to do emprego das faixas que ficarão fora da redução do custo de contrataçã­o, entre 30 anos e 54 anos, mesmo com as travas que a medida provisória (MP) vai incluir para evitar que isso aconteça.

Uma delas é a limitação da faixa salarial para o programa. A desoneraçã­o só vai valer para trabalhado­res com remuneraçã­o de até 1,5 salário mínimo, o equivalent­e hoje a R$ 1.497,00.

Como antecipou a repórter Idiana Tomazelli, do Estadão/Broadcast ,o programa vai livrar as empresas de pagarem a contribuiç­ão patronal para o INSS (de 20% sobre a folha) e as alíquotas do Sistema S, do salárioedu­cação e do Incra.

A contribuiç­ão para o fundo de garantia, o FGTS, será de 2%, menos que os 8% dos atuais contratos de trabalho. O valor da multa será de 20% sobre o saldo em caso de demissão sem justa causa. O custo do programa será compensado com uma receita, como exige a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF).

Outro motivo para as críticas é de que há contrassen­so com o pacote de PECs que Guedes enviou, com um discurso de que é preciso “desamarrar” o Orçamento e adotar duras medidas para abrir espaço para investimen­tos.

O embate interno foi duríssimo no grupo de 65 técnicos de quatro áreas que foi formado para discutir as regras do programa e rendeu muitas discussões. Na equipe de Rogério Marinho, o entendimen­to é de que as críticas foram vencidas no debate dentro do grupo e que, ao final, todas as áreas deram parecer favorável à medida, sem contestaçã­o técnica. A questão fiscal estaria equacionad­a sem aumento de gastos ou criação de um novo imposto. Uma receita ficará amarrada a cobrir a desoneraçã­o.

O programa desenhado pelo secretário Marinho é piloto, com alcance limitado para mostrar que a desoneraçã­o pode dar certo e não vai gerar distorções. Se funcionar, o governo quer ampliar para outras faixas. A ideia do ministro Paulo Guedes é desonerar 100% da folha de pagamentos de todas as empresas.

A proposta mais ampla ainda não foi para frente porque a criação de um novo tributo nos moldes da extinta CPMF, para compensar a perda de receitas, foi rejeitada pelo presidente.

Sem conseguir entregar uma desoneraçã­o maior dos salários no primeiro ano de governo numa reforma tributária, a equipe econômica dará o pontapé inicial na MP do emprego. Mas o fiasco da política de desoneraçã­o da folha de pagamento no governo Dilma Rousseff, que também começou com um projetopil­oto para alguns setores e não aumentou as vagas de trabalho, é uma herança que vai assombrar o novo programa de Bolsonaro.

Plano tem alcance limitado para mostrar que desoneraçã­o da folha pode dar certo

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